Histórias de Moradores da Lapa

Esta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores do bairro da Lapa.


História do Morador: Paulo Roberto Rodrigues da Silva
Local: São Paulo
Publicado em: 18/05/2015

Arte com vidro

Sinopse:
Em seu depoimento, Paulo Roberto conta um pouco sobre sua infância, e sobre como sua mãe já o tinha como um artista. Fala sobre como começou a trabalhar cedo, aos 12 anos de idade, e como cresceu rapidamente na empresa, mas acabou largando para atuar em diversas peças de teatro.

Ele fala também sobre sua arte com o vidro, seu trabalho no artesanato, sobre religião, sua experiência na casa de detenção, viagens e sobre seu casamento. Recorda uma visão que teve com Deus em setembro de 1981 e que modificou a forma como ele via o mundo.

História
:
Meu nome é Paulo Roberto Rodrigues da Silva. Sou artista plástico, me intitulo Paulo Roberto I, eu nasci na cidade de São Paulo, no bairro da Lapa, no dia 23 de novembro de 1955. Meu pai era Paulo Rodrigues da Silva, inclusive, o meu nome contém o nome do meu pai. Isso é significativo. Minha mãe, Catarina Rodrigues da Silva e Catarina significa “pura”, e os dois nasceram em Araxá, em Minas Gerais, onde também se casaram. A minha mãe era dona de casa, cuidava dos filhos somente e o meu pai era sapateiro e por conta disso, ele tinha o apelido de Paulo Sapateiro. Fui criado num lar maravilhoso, nunca tivemos dificuldades grandes. Eu estudei em colégio particular, sendo o meu pai sapateiro e uma educação muito rígida. Minha mãe também era muito rígida. Hoje, vivos só tenho o meu irmão Eduardo, uma irmã que é adotiva, Ana Paula, e o meu outro irmão, o Sergio já faleceu.

Eu nasci na maternidade da Lapa, nessa época meus pais moravam ainda no bairro da Cachoeirinha, na capital de São Paulo e em seguida, foram para Pirituba. E eu vivi toda a minha infância e juventude no bairro de Pirituba, numa localidade chamada Chácara Inglesa, que no passado chamou-se Fazenda Belém. A minha casa ficava bem de frente para o Pico do Jaraguá, que é o ponto mais alto da capital, uma casa bastante simples, de um senhor sapateiro, mas muito bem frequentada.

A minha mãe, muito cedo, me ensinou a escrever. Eu entrei no grupo escolar Grupo Escolar da Chácara Inglesa com seis anos de idade, naquele tempo não era comum isso, porque eu já sabia ler, com essa idade, eu já sabia ler mesmo, porque a minha mãe começou com figuras e tal e rapidamente, eu comecei a ler e depois, eu comecei a aprender música. Quando eu entrei na escola com seis anos, eu já lia partitura musical. Hoje, não leio porque deixei de experienciar, mas eu lia partitura musical. Na escola, eu nunca fui brilhante, mas sempre fui bem, passei em todos os anos, desde o primeiro ano até o colegial sem repetir nenhum ano, quando eu fiz então, vestibular para Odontologia, embora hoje eu não tenha dentição, mas isso faz parte do personagem que eu vivo, um personagem de verdade, o personagem real.

Eu comecei a trabalhar muito cedo com 12 anos. Eu trabalhei em algumas gráficas, aliás, até o que eu faço hoje está um pouco ligado a essa questão das gráficas, teve uma uniformidade. E em seguida, eu fui trabalhar numa empresa chamada Saturnia, aqui na Pompeia. Com 14 anos de idade, eu entrei nessa empresa e tive uma ascensão meteórica. Aos 17 anos, eu ocupava uma posição onde eu fazia o controle da venda de baterias de todo o país, e isso tem a ver com o que eu faço hoje. Naquela época, eu fazia na mão, em mapas manuais e hoje, eu faço através de um programa. Então era uma grande responsabilidade para um menino de 17 anos. Eu sempre estive ligado a coisas artísticas, eu tocava acordeom, naquela época em que eu lia partituras musicais, mas o Giuseppe me convidou então, para fazer teatro amador. E como entramos numa peça: “O Caixeiro da Taberna”.

Eu não me lembro agora quem é o autor. E eu trabalhava nessa mesma época na Saturnia, e um dia, eu não sei porque, eu decidi ficar uma semana sem trabalhar, desenvolvendo trabalho de responsabilidade que tinha diariamente necessidade de estar fazendo confrontos das vendas de baterias. A pessoa que era o responsável pelo departamento, senhor Silvio Lusi, ele chegou para mim e falou: “Se você não quiser mais trabalhar, tudo bem, eu te mando embora, tal”. Eu fiquei fazendo o aviso prévio e aí num momento, eu estava no banheiro fazendo hora e olhei e tinha um jornal no chão e eu peguei o jornal e ele dizia assim que no outro dia ia ter um teste para atores que era no Teatro Anchieta e precisava de atores negros e eu já estava fazendo teatro amador. Então com 17 anos, eu fui fazer esse teste e passei. Então, mais uma vez, me enquadrei dentro de algo do campo artístico.

Como ator, eu trabalhei por volta de três anos, eu pisei em palcos importantes na cidade de São Paulo, como Teatro Aquarius, Teatro Anchieta, Teatro TBC, Teatro Oficina, estive ao lado de alguns atores que hoje são conhecidos, como Giuseppe Oristânio, que hoje está na Record. Conheci muitas pessoas na época do meio artístico, cantores também. Eu acabei deixando o teatro, acredito até mesmo que por essa direção na minha vida das coisas acontecerem inusitadamente.

Comecei então, a pesquisar como se cortaria garrafa, aprendi com um detalhezinho, com outro, outro detalhe, tal. Eu mesmo criei alguns detalhes no meio do caminho, até que um dia, meu pai que era sapateiro, trabalhando na máquina de sapato do meu pai, trabalhando com vidro, então era uma loucura e um determinado dia, apareceu uma pessoa e ele falou assim para mim: “O que é isso aí?” “Estou fazendo essas coisas aqui em vidro”, ele disse: “Olha, você vai expor na Praça da República”. Eu conhecia já a Praça da República, porque num determinado momento, eu tinha trabalhado com um rapaz, o Zé Eduardo, que expunha coisas em couro.

E essa pessoa que apareceu na sapataria do meu pai, disse assim: “Você vai expor na Praça da República” “Puxa, como, né?” “Você vai lá e procura o Jacó” “Mas Jacó na feira daquele tamanho?” “Chega lá, pergunta quem é o Jacó que todo mundo conhece”. E, de fato, todo mundo conhecia o Jacó. Quando eu cheguei e perguntei: “Olha, a banca dele é ali perto do coreto”. Eu fui, conversei com esse Jacó e daí por diante, fiz vários testes e legitimamente passei em um deles e passei a frequentar a feira da Praça da República como expositor. Eram dois mil expositores numa feira que recebia turistas do mundo inteiro. E esse Jacó, no futuro, veio a ser meu concunhado.

Eu acabei casando com a cunhada dele, por conta do nosso relacionamento e ele era o responsável por essas cunhadas e a mãe também da minha esposa, hoje, minha esposa, depois de 32. Acabei casando com uma moça chamada Maria das Dores que tem um significado também dentro de toda essa história “das Dores”. Era muito concorrida a feira da Praça da República pelo movimento e isso foi dentro do chamado movimento hippie. Então, a feira da Praça da República foi a maior expressão do movimento hippie no Brasil, aliás, no momento, ela era a maior feira ao ar livre do mundo.

Então, era uma coisa muito forte, de uma expressão muito grandiosa e eu precisei fazer alguns anos, testes, para então ser num deles aprovado, para então começar a expor na feira da Praça da República, era uma coisa muito concorrida, mesmo. Eu tive que exemplificar o corte das garrafas que eu comecei a trabalhar lá, eu me apresentei como um artesão em garrafas, eu tive que fazê-las, demonstrar que era eu mesmo que fazia, fazendo corte, fazendo lapidação e o que era possível ali na frente de uma bancada que então, fazia essa seleção dessas pessoas que poderiam então, de fato, compor esse numero de expositores na Praça da República.

Eu falei para minha namorada, ela começou a frequentar uma determinada religião e num determinado dia, foi 11 de setembro de 1981, eu fiz essa proposta para ela: “Ou eu ou esse seu Jesus. Ou eu ou essa sua religião. Ou eu ou essa sua igreja”. Quando foi à noite, depois de ela desistir do namoro por conta dessa proposta que eu fiz para ela, eu estava na minha casa, olhando para o canto assim, sentado na minha cama, o quarto estava todo escuro, eu meditando a desistência do namoro, tal, quando de repente, apareceu primeiramente, o rosto da minha namorada na época, apareceu primeiramente o rosto dela dizendo aquela frase: “Eu tenho…”, quando chegou nesse ponto da frase, apareceu o corpo por inteiro de Yaohushua: “Eu tenho maravilhas a te mostrar”, aí apagou! Aí, novamente, no quarto escuro, apareceu o rosto dela dizendo aquela segunda frase: “Eu te quero…”, e ele completou a frase: “Mas se você não me quer”, e aí foi virando de costas, aí quando eu percebi aquilo: “Não, eu quero”, e me levantei. E foi daí por diante, que eu comecei a viver as coisas extremamente sobrenaturais sob a direção Dele, como se fosse um filme, até que num determinado momento, ele me fez desistir de todos os meus planos, ou seja, morrer para a vida natural, desistir de todos os meus planos.

Hoje, eu trabalho com copos, que é o mais simples, só que copo tem nas casas de todos nós, e em todo planeta e garrafas, por exemplo, essa empresa Heineken, ela no seu site, ela diz que ela constrói cervejas capazes de colocar uma garrafa ao lado da outra. Em um ano, ela consegue dar a volta no planeta. Então, é um numero muito grande de garrafas.

E eu, nessa época, então da Praça da República, logo em seguida eu passei a trabalhar então, eu tive uma empresa nessa direção, onde eu vendia na região atacadista do Canindé, então eu vendia para o Brasil inteiro essas peças feitas a partir das garrafas. Então veja que houve um avanço naquilo que eu fazia, na confecção das peças que é um número muito grande: copos, vasos, taças, porta-guardanapos, licoreiras, luminárias, lustres, isso através do corte, lapidação, de montagem, de furo, sabe, da decoração. E o mais interessante também é que num determinado momento, a minha mãe tinha uma jarra de casamento e a jarra era lapidada à mão, e num determinado dia, eu falei assim: “Se eu soubesse lapidar…”, eu já trabalhava com vidros, com garrafas, “Se eu soubesse lapidar, olha, eu ficaria rico. O dia que eu soubesse fazer aquilo ali, eu ficaria rico”. E num determinado momento, apareceu uma pessoa se oferecendo para vender uma máquina de lapidar.

A pessoa que era da Bahia e veio para São Paulo para trabalhar com isso, mas estava tendo certas dificuldades, tal, e eu conheci essa pessoa, essa pessoa me ensinou, E eu me tornei então, um lapidador, coisa que hoje em dia, praticamente, não tem. Na região onde eu moro, não tem ninguém, aqui em São Paulo, os poucos que tem estão morrendo. Na região do Vale do Paraíba e onde eu moro hoje, na Serra da Mantiqueira, em Campos do Jordão, não tem ninguém nessa área. Então, além de tudo, isso é técnico, eu estou no chamado mar azul, eu sou sozinho no estado, não tenho concorrência, é uma ocupação que não tem concorrência. Então eu brinco nesse meio, aliás, o artista é uma pessoa que brinca, que faz arte, brinca. O lapidador tem habilidade com o vidro em modelar o vidro, em fazer incisão no vidro.

A Maria das Dores, ela era cunhada do Enomar Jacó, que foi o organizador da feira da Praça da República. E então, o Enomar fazia gosto que eu namorasse com uma das cunhadas dele, porque ele tinha responsabilidade, grande zelo. Então a gente fazia, além dessa feira na Praça da República, feiras aos sábados em bairros, cada sábado era em um bairro aqui de São Paulo: Santo Amaro, Tatuapé, vários bairros. E ele sempre mandava, às vezes, ele não ia, ele mandava uma das suas cunhadas, e até imaginando que eu fosse namorar com a outra cunhada dele, que é a irmã da Maria das Dores. Começamos a namorar um dia de Natal, significativo.

Eu sai para comprar alguma coisa assim, correndo, porque a minha mãe me pediu, e eu não me lembro bem agora, ela estava comigo e foi aquela situação do primeiro beijo, tal. E daí por diante, começamos a namorar, foi uma coisa assim, muito rápida, o nosso casamento também, porque naquele momento que eu pedi para que ela decidisse entre eu ou Jesus, ou eu ou a religião, houve uma desistência. Mas, exatamente no outro dia, que foi o dia 12 de setembro de 1981, nós retornamos a namorar e um ano após a aparição, exatamente um ano após, no dia 11 de setembro de 1982, nós nos casamos, em Pirituba, que também é o lugar onde aconteceu a aparição também.

Após o casamento somente e passado um ano, mais ou menos, foi que nós tivemos a Sarah, que é a primeira filha, hoje, são Sarah, Nathan e Josué. Tenho hoje já quatro netas. A minha filha pediu para eu fazer uma inscrição para ela no curso de informática porque ia ter uma seleção. Eu aproveitei e fiz para mim também, sabe? No Instituto Federal São Paulo, no campus Campos de Jordão, que é da escola, da ex-Escola Técnica Federal, daqui de São Paulo.

E passei, fiquei em terceiro lugar, tal e comecei a fazer esse curso de informática e eu vejo que é uma continuidade de tudo que eu comecei a aprender na gráfica lá, porque tem uma correlação muito forte do que hoje é a informática com a questão do que era a gráfica daquele tempo, que era também o que eu trabalhei naquela empresa Saturnia, no controle das vendas de baterias, tem tudo muito a ver. E, em seguida, apareceu a oportunidade de fazer em nível superior, já estava dentro do Instituto, fazer em nível superior essa análise de sistemas, hoje, eu estou fazendo o quinto semestre no Instituto Federal São Paulo, campus Campos do Jordão. E eu vejo que ao mesmo tempo, isso tem a ver com a questão da aparição do Messias a mim, porque o entendimento que eu tenho hoje das coisas virtuais, do que é abstrato é muito profundo e também técnico, eu posso te dar informações técnicas de coisas que as Escrituras mostravam de uma forma que as pessoas naquela época não poderiam entender.

E as de hoje, também, ainda não entendem, tanto é que eles constroem hoje prédios dizendo: “Isso é Igreja”, E a Igreja, é uma realidade virtual da qual nós participamos. Eu vou te falar uma coisa, as pessoas sempre me perguntam: “Poxa, mas a gente precisa ir a um lugar? Preciosa ter um lugar?”, eu te pergunto: Facebook, que hoje é a maior empresa do mundo, ele precisa de algum lugar para comportar todas as suas pessoas? As pessoas estão em suas próprias casas e elas têm um relacionamento, é isso. A Igreja que o Messias vem trazer é isso, é por isso que ele foi morto, ele trazia algo muito elevado para as pessoas.


História da Moradora: Magdalena Pellicci Monteiro
Local: São Paulo
Publicado em: 04/08/2003
Tema:

História

Dona Madalena, para começar a entrevista eu gostaria que a senhora falasse para a gente seu nome completo, local e data de nascimento. Meu nome é Madalena Pellici Monteiro, moro aqui na Cidade Líder, Itaquera; tenho 65 anos e minha vida toda foi aqui na região. Que dia que a senhora nasceu? Dia 31 de março de 1935. E o nome dos seus pais? Orlando Pellici e Cassinda Pucci Pellici, italianos. Ah, eles nasceram na Itália. Nasceram na Itália. A senhora sabe onde? Em Pietra Buona, Pietra Buona, província de Pisa, Itália. Eu tive que era o Remo Pellici, ele nasceu mesmo na Itália, veio com um ano e meio. Ah, é? E eram só vocês dois de filhos ou mais filhos? Nós somos em seis irmãos, três homens e três mulheres. E os outros nasceram todos aqui? Aqui em Brasil. Qual o nome dos outros irmãos da senhora? O Remo, que nasceu na Itália, né, depois tem a minha irmã Maria, a Brasilina, o Adelindo e o Pedro e eu, três homem e três mulher. P/1 E a senhora sabe a origem da sua família assim, seus avós eles, onde eles moravam, o nome deles? Tem o nome dos meus avós, mas são todos na Itália, aqui no Brasil só tem a minha mãe e meu pai mesmo, tenho uma tia, que veio antes, que deu a carta de chamada para o meu pai não vir como imigrante, né? Porque papai fez a guerra do 14, então ele ficou seis anos na guerra e então quando terminou a guerra a Itália estava arrasada, né? Então ele veio como imigrante, mas com carta de chamada, né, então é diferente do imigrante que passa pela imigração daqui de São Paulo, né, então ele, minha tia, que era a tia Macela, que era a única que estava aqui no Brasil. E aí meus pais não tiveram mais força de voltar e ficamos aqui em Itaquera, né, e fizemos nossa vida aqui. Em que ano que seu pai chegou, a senhora sabe? 1922. Vamos falar o nome dos seus avós. Meus avós é... Paternos. Da Itália, né? É. Seus nomes. Seus nomes. Era Maria, Pedro, é, (PAUSA) Madalena (PAUSA) me passou um pouco da mente é o nome do pai da minha mãe, né, agora, né? Não tem problema não. Mas eles eram todos da mesma região? Todas, todas da região da Itália. De qual que era? Pietra Buona. Ah, todos lá. É, da Itália. Certo. E aí seu pai e sua mãe chegaram aqui já com um filho. É, um ano e meio. O irmão mais velho. O irmão mais velho. P/1 E eles se estabeleceram onde? Aqui perto, em Perus. Depois vieram aqui para Itaquera e ficaram aqui, que era uma fazenda, né, então começou com pedreira, uma pequena pedreira, né, depois vieram dois irmãos que compraram a pedreira, meu pai era administrador e minha mãe trabalhava como escriturária. Crescemos todos ali na região aqui da Pedreira União. A senhora nasceu aqui no bairro? É, eu nasci em Perus e vim para cá com dias. Com dias? É, e vivi uma vida inteira aqui. E lá em Perus qual era a atividade do seu pai? Quando ele veio, ele veio como contratado imigrante, né, imigrante chamado, mas mesmo como imigrante, mas logo ele começou a trabalhar numa indústria era perto de cimento, né, e depois ele veio embora para Itaquera e ficou aqui, mas foi pouco tempo que ele ficou em Perus, o resto do tempo mesmo ele ficou todo aqui em Itaquera. Certo.

P - Ele conheceu sua mãe lá? Minha mãe? Eles se casaram na Itália, né, minha mãe já veio com filho, se casaram na Itália, meu pai veio antes e depois mandou buscar minha mãe com meu irmão.

P - E a atividade da sus mãe qual era? Minha mãe trabalhava no escritório da pedreira aqui, na Itália era só estudante, né, vida dura, né, da Itália, né, porque estava em época de guerra, né, então eles sofreram demais. O que os seus pais contavam? Sofrimento, sofrimento, porque vocês sabia, meu pai jovem, cheio de vida saiu grupo de um alvo, né, assim todos colegas, mais de 20 saíram do país deles e foram para a fronteira e ficaram seis anos, foi a pior guerra, guerra do 14 foi a pior guerra, e depois ele também, como ele foi um dos combatentes pioneiros ele conseguiu salvar a parte, como se diz, a parte da luta que eles estavam combatendo que até hoje nós temos uma cruz que ele recebeu da, da Itália, como um combatente que enfrentou a guerra, né, praticamente sozinho numa parte que morreu todos ele, ficou mais ele e mais dois mutilados. Então são histórias muito tristes do meu pai, meu pai tinha muito sofrimento, muita dor. Depois que ele veio embora aí a Itália ficou melhor, mas ele teve que vir embora, senão passavam fome, né? Então eles vieram para cá com a intenção de buscar todos os meus tios, que era chamar a família inteira, né, nem eles aqui tiveram força e nem lá de virem para cá. Quando ele chegou aqui, logo pegou a revolução aqui, né, de uns tempinhos já pegou a revolução de 32 e foi uns tempinhos assim, só sofrimento, mas tem partes alegres também, né, que meu pai ele era um homem alegre, para ele não tinha tempo ruim, todas as...

P - Ele participou da revolução de 32? Não, aqui já não. Porque ele era estrangeiro, então estrangeiro não podia. Porque a história que sofreram muito, eu acho que muita gente da colônia vai contar para vocês também uma parte do sofrimento, né, dos imigrantes, né, que estavam aqui no Brasil, que houve uma época que eles chamavam assim como quinta coluna, né, que eram estrangeiros, né, então muitas vezes eles pegavam o trem no Brás, desciam em Alvim, depois ele andava seis quilômetros para chegar em casa e muitas vezes, tanto o meu pai, como o senhor Bassi que vocês vão ter a oportunidade de conhecer, e o senhor Joca, que vocês comentaram dele, eram obrigados a descer do trem e vir a pé, no tempo da revolução. Por que eram imigrantes? Eles eram estrangeiros, né, então italiano, japonês, então eles tiveram uma parte de sofrimento também nessa virada, né? Mas o meu pai conseguiu levantar e criar os filhos. O pai da senhora se naturalizou brasileiro ou não? Não, não, mesmo meu irmão mais velho também não foi naturalizado brasileiro, senão ele tinha que voltar para servir o exército. E tinha que descer lá em Artur Alvim porque aqui tinha uma fiscalização, é isso? Não, descia em Alvim porque era a estação mais perto para chegar em casa. Ah, é, não era a estação aqui de Itaquera? Itaquera, Itaquera ficava um pouco mais longe, então ele descia em Alvim, depois ia para casa a pé, seis quilômetros, né, porque ele era administrador da pedreira, mas ele tinha que vender a pedra, né? Então um dia sim, um dia não ele ia na Sé, se encontravam ali no Largo do café. Então eles se encontrava ali para vender as pedras, então um dia sim, um dia não ele pegava o trem para ir fazer esse trabalho. É uma vida árdua, né?

P - E ele veio da Itália assim com esse emprego garantido? Não, não, que quando vem imigrante vem, ele não sabe o que vai pegar aqui, né? Quando descia na imigração então eles levavam para as fazenda, para os cafezais, pedreiras também, só que ele não passou na imigração, certo?

P - Ele não foi daquele imigrante típico assim de... Que ficasse hospedado.

P - Uma noite lá, depois vai para a colônia, né? Porque aí então ficaria o nome dele, né, e eu estive lá na imigração lá não encontrei nome nem do meu nono, porque ele veio em 1800 e, antes do meu pai nascer ainda. Então ele trabalhava fazendo estrada Santos-Jundiaí, estrada de ferro Santos-Jundiaí. Conta essa história para a gente, dona Madalena, do seu avô. Paterno? É, pai do meu pai. Então ele trabalhou na estrada, ele veio como imigrante. Então estavam construindo na época a ferrovia de Santos-Jundiaí, então ele trabalhava fazendo aqueles dormentes que chamava, né? E ele inclusive, ele no último ano que estava aqui, ele perdeu uma vista num espinho da onde eles abriam, faziam as picadas, como é que se diz, a abertura das mata para poder descer na serra, né, vocês nunca foram de trem para Santos? Não, eu nunca fiz essa viagem. Então nosso passeio de domingo era por aquela estrada, então porque meu nono ajudou, meu avô. A estrada que seu avô construiu? Isso. E depois ele teve que voltar, porque ele perdeu uma vista, então ele já ficou praticamente inutilizado, então ele teve que voltar para a Itália, aí foi que ele não veio mais para cá. Aí veio a minha tia primeiro, depois veio meu pai, mas já muito depois, né, muitos anos depois. E essa estrada de ferro, que tinha de Santos-Jundiaí, quando nós íamos para a praia era a única condução, então meus pais levava a gente, pegava o trem no Brás, né, (riso) que saudade disso. (riso) Como é que era? Vocês iam final de semana? É, no domingo de manhã e voltava a noite. Saíam de onde? Nós íamos da minha casa, que eu morava aqui no sítio da pedreira, né, e nós íamos até Carrão e do Carrão tinha ônibus até o Brás e aí nós pegávamos o trem e descíamos para praia e a tarde a gente voltava. Lá tinha o bonde, né, na estação mesmo tinha o bonde que levava a gente até a praia e depois... Lá em Santos? Em Santos, em Gonzaga, São Vicente, aquelas praias onde o bonde passava. Isso que ano, que época? Mais ou menos, é porque é 1950, né, é porque nós éramos pequenas ainda, né, nós nos passeio saía com meu pai, antes também, no 45, né, então nós fazíamos essa viagem. E a mãe da senhora também ia? Ia, nós íamos todos juntos, que a minha família era toda assim, muito unida, até hoje nós estamos unidos demais, sabe, nós não fazemos nada, os encontros que nós temos, nós levamos ainda a tradição dos meus pais, sabe, respeitamos a tradição dos meus pais, no dia 19 de março que é dia de São José, ele tinha uma tradição na Itália, nós até hoje fazemos o mesmo que ele fazia lá na Itália. Como que era essa tradição? Que é assim, é uma tradição, que é dia de São José, então é uma doação que a gente faz de doces, então a gente faz um doce de arroz que ajuntado com ovos e noz moscada, né, e depois é frito e passa na açúcar com canela, um bolinho tradicional que a gente dá para todas as pessoas que vem em casa da gente até hoje. Mas a tradição do meu pai na pedreira, quando ele tinha os empregados, então era feito assim, minha mãe fazia e deixava todos os empregados comerem nesse dia de São José, uma tradição, né? Claro. Que delícia

P - E tinha outras famílias? Famílias portuguesas, né, que moravam perto, inclusive são, tenho três irmãos casados na mesma família, que são portugueses também que vieram como imigrantes, né, portugueses, e aí meus três irmãos casaram na mesma família.

P - Eram suas vizinhas? Eram vizinhas, é vizinha assim, porque a gente mora em sítio, o vizinho, é o mais perto é quilometro para chegar, né? E essa, esse sítio que meu pai comprou em 1936, ele era uma parte da Fazenda do Carmo, que a Fazenda do Carmo era do Bento Pires, né, depois foi dividida em partes, Cidade Líder... é que foi vendido para a Cidade Líder, uma parte, né, e Munhoz, e a outra parte foi vendida para o Oscar Americano, que hoje é o parque do Carmo que foi passado, né, para a prefeitura.

P - Eu sei, foi o Oscar Americano que... Fizeram uma fazenda só. E a própria Cidade Líder era o quê? Era uma fazenda, fazia parte da fazenda. A família chamava Munhoz? É, Francisco Munhoz. Então foi dividida em duas a fazenda. Foi dividido não, foi dividido em várias partes, né, Vila Carmosina, né, Colônia, que a fazenda era uma só, vinha de Itaquera até Guaianases, São Miguel. Era imensa então? Era imensa, a fazenda era imensa, eu tenho a história, de repente vocês podem aproveitar. E como que era o proprietário mesmo, dona Madalena, o nome do proprietário? Ah, bem antes do Bento Pires tem outros proprietários, mas o que eu me lembro mesmo foi o Bento Pires, pelas escrituras que meu pai tem ainda, né, as fazendas, que essa fazenda era muito grande, você pegando a estrada de Itaquera agora você vai pegar mais coisa, então você vai... Mais detalhes. ...detalhes. Dona Madalena e antes do seu pai comprar esse sítio, né, onde vocês foram mora, qual era a primeira casa que vocês moraram aqui? Era de um pedaço de terra que era da fazenda, né, que unia com a fazenda do Carmo, que era do Santos Giovanini, era uma família italiana também, que eram donos dum pedaço dessa terra, entes dos irmãos Rigghi comprar. A senhora lembra da casa da infância, dessa primeira casa? Ah, lembro pouco, porque eu era pequena demais, depois nós fomos morar dentro da casa da pedreira já. Então e a minha irmã mais nova que eu, a Brasilina ela nasceu ali dentro da Pedreira União, né, e viveu a vida toda ali, vivemos a vida toda ali E quantos anos a senhora tinha quando a senhora foi para lá? Para onde? Para essa casa aí da pedreira. Dentro da pedreira? É. Para dentro da pedreira? Ah, eu devia ter uns três, quatro aninhos, né, na época, que meu pai foi para logo ser administrador. Entendi. E como é que era essa casa, a senhora lembra? Ah, era casa, já na primeira casa era de madeira, né, e antigamente as casas por aqui eram todas feitas de madeira, e depois nós fomos para uma casa de alvenaria já para dentro da pedreira, né? Ficava do lado da pedreira? É, dentro, né, dentro. Dentro? É, ficava pertinho da onde os operários trabalhavam, né, que minha mãe na época ela dava pensão para os empregados, além de trabalhar no escritório, ela trabalhava, ela dava pensão para os operários da pedreira. Como é que era a pensão? É assim, minha mãe fazia o almoço, né, e todos os operários vinham almoçar na minha casa. E eram muitos? Ah, era, sei que mais de 20, né? Ah, é? É, sempre mais de 20 pessoas todo o dia. E nós tínhamos muita amizade com os médicos do Brás, então eles conviviam muito com a gente, né, eles é que faziam a consulta desses operários, porque eles trabalhavam, tinha um dos médicos era irmão da esposa do dono da pedreira, os irmãos Rigghi, né? Então foi que começou melhorar um pouco a vida da gente. Por que ele tinha que fazer essas consultas dos operários? Não, porque ele era um médico... então nós tinha muita amizade com ele e com todos os médicos do hospital do Brás. Porque o meu pai, ele era italiano, ele levou aquela tradição, ele fazia o vinho e plantava a uva, então quando chegava de tarde, aparecia os médicos para vim tomar o vinho do meu pai e comer o franguinho que minha mãe fazia, (riso) frango com polenta, aquela tradição, né? (riso) Mas os médicos vinham consultar os operários? Vinha, de vez em quando eles vinha. Era comum, era uma rotina? É, tipo de rotina, né, mas mais era a amizade que nós tínhamos com eles, né? Então era uma vivência muito boa com o pessoal da colônia, todos os, a família Bassi, Bertozzi, o senhor Joca, né, que nós estamos comentando aqui, várias famílias, os pais davam muito, então ele tinha plantação de pêssego também, né? Porque a vida da gente, quem mora numa fazenda, principalmente quando tem uma família pobre, é, é do que a gente planta que a gente vive, então meu pai plantava de tudo para nós termos fartura dentro de casa, certo, plantava fruta, verduras, feijão, plantava tudo, né?

P - Essa fazenda era dentro da pedreira ou já foi... Não, a pedreira é que fazia uma parte dessa fazenda, isso há muitos anos, era uma fazenda só, foram divididas em várias áreas, né, que uma dessas áreas entrou a pedreira União.

P - Dona Madalena, queria que a senhora descrevesse como que é uma pedreira que eu não sei. Olha, a pedreira é uma dádiva de Deus, é uma natureza que você só vendo, porque eu falando para você não vai descrever totalmente o que é uma pedreira, uma natureza, é uma coisa que brota, a pedra está ali no meio da terra, inclusive aqui onde está o metrô, onde nós estamos agora é uma pedreira, certo, que a pedreira é aqui, do ladinho aqui é a pedreira Itaquera. Então isso aqui, Itaquera, é só pedra, mesmo aonde está a estação, essa pedreira de Itaquera único, unia com a pedreira União por baixo, então foram as duas desativadas, a pedreira União foi desativada já há muitos anos atrás e a pedreira Itaquera foi desativada agora em novembro. Então a pedra é uma coisa que começa, ela nunca termina, são blocos enormes, então elas são estouradas com dinamite, né, e são levadas para o britador, e aonde faz o asfalto e tudo com a pedra britada, mas para esse processo tem que trabalhar muito, tem que aprofundar, furar a pedra, estourar para depois o cascalho ir para as máquinas para ser moída, né, que é toda a pedra britada, né, que vai, então os caminhões grande vêm buscar e leva. Mas na época que não tinha os maquinário de hoje, as pedras eram tiradas a muque, a força, né, com marretas, com, com o estouro da dinamite também, né, que era obrigado. E esse blocos grande ia para o Rio de Janeiro, e para ir para o Rio de Janeiro tinha um trole aqui, um trem com uma, com vagão, e era empurrado, tipo assim, por escravos, não só escravos, por, por imigrantes também, essas ma... esse vagão era empurrado até Itaquera com a pedra, com aquele peso que era puxado por dragas, que eu vou mostrar uma foto aqui agora, para mim explicar para você, você não vai entender. São dragas que tinha muita força com correntes puxada a mão, essa pedra era suspendida, colocada dentro de um vagão, era empurrada aqui da pedreira de Itaquera até a estação de Itaquera, ali passava para o trem e dali do trem, depois que estava dentro do vagão do trem, ia para o Rio de Janeiro, muitas pedras foram para a Itália daqui da região. E eram pedaços grandes? Grande, tinha sempre a base de 20 toneladas, entende, a pedra menor que tinha, que eles pediam sempre era de 12 a 15 toneladas uma pedra, né, então era um trabalho difícil e aqui onde nós estamos no metrô é aonde eles carregavam as pedra dentro do vagão para ser levado até Itaquera. Nós temos várias Igrejas aqui da região, todas foram trabalhadas com pedra de Itaquera, e tem a Igreja São Pedro que tem o altar-mor, que foi o meu pai que fez, o altar mesmo foi feito por um bloco da pedra de Itaquera, da pedreira União. E na época também foi restaurada a Igreja catedral, e meu pai foi que ajudou a fazer os degraus da Igreja catedral. Então essa pedras eram com várias utilidades? Várias utilidades. Para tudo, era revestimento, alicerce, é, muro de arrimo, tudo que você imagina era feito com pedra. Mesmo hoje, né, o asfalto com que você vai fazer? Não é com pedra, os asfalto é todo feito com pedra, só que isso aí já é pedra britada. Então depois começou vir os maquinários, começaram britar, né, veio mais recurso. Mas quando o meu pai era administrador da pedreira de Itaquera, além de ser administrador, ele fazia outras, trabalhava com revestimento na Paulista, na catedral, fazia um calçamento com paralelepípedo. Então era feito tudo de pedra. Antigamente não tinha muito asfalto, era paralelepípedo, então era calçado todas, ou lajes com lajotas de pedra, né, todas elas eram calçadas assim. E quando foi aberto aqui a avenida Líder, que hoje é uma das vias principais da nossa região que vai para Cohab, para todos os lugar, eu morava na pedreira, e eu vinha a pé, eu morava lá na pedreira, andava seis quilômetros para ir e seis para voltar, para ir na escola Álvares de Azevedo, que era no centro de Itaquera. Ali onde é a regional. A administração regional hoje. Então eu andava seis, 12 quilômetros por dia para ir na escola e não perdia dia, podia estar chovendo, não tinha calçado, a gente, minha mãe fazia de couro, do jeito que desse para a gente chegar até Itaquera, lá a gente trocava, punha um tamanquinho para poder entrar na sala de aula. Ah, é? E o sapato sujo... É, tirava o sapato e ficava, deixava, porque não tinha nada em Itaquera, não tinha, só tinha essa estrada de Itaquera aqui e era só trilho, depois é que foi aberto. Na época que eu ia para a escola até foi aberto a avenida, começou a abertura da avenida Líder, e era comandada também pelo meu pai, eram 60 carroças e a terra eram carregada nas carroças, não existia trator, essas coisas para a avenida, a abertura da avenida, o começo dela foi feito assim. Antes o que tinha lá? Mato? Mato, é, mata mesmo. Mata de eucalipto. Então a parte aqui, porque tinha, nós fazíamos divisa com a Francisco Matarazzo, que era só eucalipal, né, e a parte aqui da pedreira também era só eucalipal. Por que tem tanto eucalipto aqui, tinha? Porque é uma região que dá muito eucalipto, por quê? Porque tem muita água, porque a região de Itaquera é uma região abençoada, se você pegar a história agora você vai saber porque essa pessoa, Oscar Americano, os compradores de fazenda antigo, eles estavam doente, então eles vieram para cá para se tratar em Itaquera e acabaram ficando aqui. Tem também uma história do ar, não é? É, por ser um ar puro, por causa das pedreiras, do ar aqui, a água brotava, nós pegávamos água que brotava dentro das minas da pedra. Então se você quisesse gelar, na época não tinha muito cerveja, mais era vinho, né, então queria fazer um vinho gelado era só por num balde e soltar dentro do poço e ficava geladinho, né, era assim, minha mãe fazia cerveja também. meu pai fazia vinho, minha mãe fazia cerveja, o pão, tudo era feito em casa, tudo, não tinha nada que dizia assim, sai para comprar correndo, né? Então era assim a nossa vida. E a senhora estava contando da escola, né, que a senhora andava seis quilômetros ao todo para ir e voltar. 12 quilômetros, seis para ir e seis para voltar, né, aonde eu morava lá tem seis quilômetros até chegar em Itaquera. Quais lembranças a senhora tem da escola Álvares de Azevedo? Ah, é muito boa, muito boa As professoras da época, elas eram rígida, sem dúvida, mas eu não troco meu quarto ano por muitas faculdade de hoje, né, porque é muito válido, os professores eram dedicados, eles eram rígidos, mas eles eram dedicado, a diretora, dona Claudinha, eu lembro dela até hoje, minhas professoras eram um amor, então entendiam a vida da gente, minha vida era muito sacrificada, né, porque de manhã a gente saía cedinho, ia entregar leite, que minha mãe tinha criação, nós entregávamos leite aqui embaixo que chama Rio Verde, é um bairro aqui na Cidade Líder. Eu vinha a cavalo, para trazer o leite eu vinha a cavalo. E era leite de vaca? Leite de vaca, minha mãe tirava, engarrafava todos, e fazia aqueles tipo bornal, que colocava os litros de pé e punha em cima do cavalo e eu subia em cima, eu e meu irmão e vínhamos entregar leite todo o dia, depois eu voltava para casa, me aprontava e vinha para a escola. Nossa Que hora a senhora saía para ir entregar o leite? Ah, saía cedo, quando era seis horas da manhã já estava na rua entregando leite, é, tinha que fazer isso, né, tinha que fazer para sobreviver também, né?

P - A escola era mista, homem e mulher ou só mulher? Não, houve um tempo que era separado, só meninas e meninos, depois, antes de eu completar o quarto ano aí começou entrar já mista, meninos e meninas, mas no começo era só meninas.

P - Daqui de Itaquera saiu muitas crianças ou ia só a senhora, a senhora lembra disso ainda? Ia eu, meu irmão e mais dois filhos dos portugueses, que eles vinham a pé até minha casa e da minha casa nós íamos juntos, vinha em quatro, cinco pessoas. Mas quando passava de ano, no começo tinha tempo que da gente vir sozinho para a escola, mas não tinha perigo, não era bem só de poderes, porque eu nunca passei nenhum aperto na minha vida assim, a vida toda, mesmo quando eu era jovem, eu coordenava grupo de jovens desde os meus 20 anos eu já tinha aqueles grupos de jovens atuantes, é de respeito...sabe, de respeito, de muito respeito. E então eu pegava as crianças, eu com as irmãs Marcelinas aqui, a irmã Tarcísia, faleceu a pouco tempo, irmã Maria, então nós passava nos acampamentos das pedreiras e pegava aquele, as crianças, ia pegando, levando criança, pegava as vezes 20, 30 criança dos colono, que trabalhava na pedreira, levávamos para a Igreja e dávamos catecismo, e ajudava as crianças no que eles precisavam, as vezes até em alimentação as irmãs me deram muita força, quando elas começaram aqui o hospital. Queria que a senhora contasse um pouco mais dos funcionários da pedreira, como é que era esses acampamentos? Da onde vinham essas pessoas? É, tinha muitas que vieram de Minas, outras do Norte, né, mas muitos eram nascidos aqui mesmo. Então não tinha firmas aqui na região, então o forte do trabalho aqui na região antigamente era pedreiras, sabe, abertura de estradas, que depois começou já melhorar, mas no começo era olarias e pedreiras. Então tinha os funcionários que moravam dentro, era uma acampamento assim: era um grupo de casas, né, onde moravam os funcionários da pedreira e das olarias. Eram casas de madeira, pau-a-pique, como é que é? Não, tinha de madeira, mas tinha mais é de tijolo mesmo, porque era olaria, então os tijolos que as vezes não tinha condição de vender, então eles construíam as casas, sabe, os tijolos melhores logicamente que eram vendidos, e os tijolos que eram assim já mais danificado ou vezes não pegavam cor, quase nem faziam as casas. Sabe, eles não tinham assim, como se diz, fartura, quando eles tinham emprego eles não tinha assim muita fartura, mas eles tinha uma vida pobre, mas com pelo menos um teto para morar, né,? Meus pais ajudaram muito, ajudaram muito, maus pais eram italiano, e falecia as vezes algumas pessoas na pedreira, meus pais faziam de tudo, criavam, sabe, minha mãe criou quatro crianças de cor, sabe, italianos, não falavam quase o português. E nós tivemos dificuldade de estudo por não saber falar o português, então nós misturávamos muito, por isso que era a paciência das professoras e diretoras nisso, porque nós falávamos quase tudo em italiano, né, e depois que começamos já a crescer e conviver com o povo da pedreira, então começamos a falar mais o português. E tinham, aconteceram acidentes na pedreira? Olha, bem poucos, viu, porque era muito bem organizados, eram, eram pessoas, muitas analfabetas, mas eles eram obedientes, então quando a pessoa é obediente, que eu sempre falo para o grupo de jovem, quando a pessoa é obediente ele tem futuro, certo, ser, respeitar e ser respeitado e ser obediente, então eles eram analfabetos, mas eles eram obedientes, então meu pai explicava para eles o que tinha que ser feito e eles faziam direitinho. Então em toda a minha vivência na pedreira eu vi um acidente, certo? Por que foi esse acidente? A mina, que é, porque quando fura, quando, é, a pedra tem que ser furada em vários lugares para depois colocar a dinamite, a espoleta e o estopim, então eles deixam o estopim bem comprido aonde eles acendiam e o fogo ia devagar e explodia as minas, nessa hora todo o mundo tinha que se retirar e muitos se esconderem da explosão para estourar a pedra, né, e houve uma vez que houve um acidente com um rapaz. Mas acidentes, quer dizer assim, porque são serviços brutos, serviços pesados, mas eu praticamente não vi acidente, só esse. E acontecia de quanto em quanto tempo as explosões? Ah, isso tinha que fazer todo o dia. Todo o dia?

 

R - Todo o dia tinha que explodir a pedreira, explodia pedra todos os dias, né, linda, todo o dias tinha que ter. E acontecia mais de uma vez por dia? Não, era apenas uma vez por dia. Era aquele horário, o horário para que as pessoas já se prevenissem, né, porque o que não pode, mesmo aqui a pedreira Itaquera, quase não se houve falar que teve acidente, porque é organizado, né, é uma coisa muito bem organizada. Que horas que era? Ao meio-dia, meio-dia estourava as minas, então todo o mundo já sabia que aquela hora não podia ir para lado nenhum, nem ir buscar água, porque a água brotava nas pedras e nós pegava água lá na pedreira, né, porque a água do registro, minha filha, veio agora. (riso) E o que era viver sem luz? Meu pai, nós tínhamos lamparina e era mais o lampião de carbureto, não sei se você conhece o carbureto, talvez vocês não conhecem. E na época o meu pai tinha o lampião, porque meu pai era estrangeiro, então tinha aquelas idéias, porque na Itália já tinha alguma coisa assim, entendeu, era um tipo de lampião que era usado que tinha um, uma redinha, tipo de uma camisinha, uma redinha que acendia através do fogo do carbureto, então nós tínhamos o lampião. Mais a frente já, quando eu já moça, então meu pai comprou motor, então a luz era gerada pelo motor, aquela hora acendia as seis, quando era nove horas assim, então desligava o motor. E aí ficava só esse período com luz? Só com luz, só esse período. Depois todo o mundo ia dormir? Ah, dormir já, porque todo o mundo levantava cedo, né, para trabalhar e meus irmãos também saíam cedo, porque eles iam a pé até Alvim, pegavam o trem para ir trabalhar no centro da cidade, com revestimento em pedra também, né? E assim eu fiz muito sacrifício para estudar, mas eu fui feliz também, porque teve os tempos tristes, né, de falta das coisas, a gente já estava crescendo, é, ficando moça e não tinha aonde você se divertir... Ah, é, como é que era a mocidade? ...sair. Sair é assim, nós fazia times de futebol (riso) de mulher e tinha tanto orgulho para nós, embaixo de chuva, nós fazia, jogava, todos os domingos tinha jogos, e tinha o cinema Itaquera, mas eu já era moça nisso, né, então meus irmãos levavam a gente para ir no cinema e no baile Elite, que era o baile do carnaval, tinha baile de carnaval, meu pai deixava ir um dia, meus irmãos mais velhos levando, né? Era de noite? Era a noite. Tinha matinê também, mas como eram meus irmãos indo todos juntos, então ia a pé. (riso) Ah, é? A pé até na Elite Itaquerense, além de seis quilômetros até Itaquera, tinha um ou dois para chegar no Elite. Ia de fantasia? Às vezes ia, mas eu já não gostava muito, eu não gostava muito, mas... Como é que era o carnaval lá? Ah, era uma delícia (riso) uma hora eu ia te falar alguma coisa (riso) é muito bom o carnaval do Elite. Tinha músicas? É tinha, tinha um conjunto. E os rapazes eram todos músicos de Itaquera mesmo, faziam aqueles grupos. Tinha cordel, fazia aqueles grupos carnavalesco, é, fantasia, homem vestido de mulher, né, era muito gratificante, que saía pelas ruas de Itaquera, ainda de terra, né, as ruas de Itaquera ainda de terra, onde saía os bloco. Ah, o cordão era na rua? Era na rua. Carnaval mesmo não era na rua, depois que veio Elite, mas é, já mais, né? As vezes meus pais levava, nós tinha uma tia que morava na Barra Funda, levava nós até lá e nós víamos os cordões, as fantasias no meio da rua lá na Barra Funda e depois, é, no dia seguinte, nós voltávamos para casa de trem, já pegava o trem lá no Brás , era assim.

P - Quem freqüentava o clube Elite, as famílias mais tradicionais ou todo o mundo ia? Ah, ia todo o mundo, as famílias se uniam lá, nas noites de carnaval, inclusive todas levavam, é, lanche, a gente se unia era um piquenique (riso) era uma festa, todas as famílias se conheciam, né, como nos conhecemos até hoje, então é, iam os pais, meus pais não iam porque não gostavam, né, mas deixavam eu ir com meus irmãos mais velhos. Então a gente se unia nas mesas com todas as famílias itaquerense, nossa Que coisa de louco Era muito bom E essa história do time de futebol feminino, onde vocês jogavam? Ah, nós jogávamos lá embaixo no jardim, depois foram já aumentando as vilas, né, Jardim Fernandes, que é lá na Vila Bandeirantes, mas nós íamos jogar lá no Sábbado DÂngelo aqui em Itaquera. Na rua Sábbado DÂngelo? Não, na sede, hoje é a sede, lá era escola, lá tinha escola da admissão para o ginásio, era lá na, na, onde é o centro dos convertidos hoje. Não na casa Raul Seixas, lá não, né? Não. P/1 O que é lá? Lá no parque Raul Seixas hoje lá na casa da fazenda. Ah, era casa da fazenda? Era uma fazenda. E nós, minhas sobrinhas já depois, né, elas também nasceram lá na pedreira, então elas estudava já no Emília, né, que seria Álvares de Azevedo, mas que tinha passado lá para o Emília, e a admissão elas também fizeram lá no Sábbado DÂngelo, aonde hoje é o centro dos convertidos, que tem lá, né? Não sei. O que é lá? É na avenida Sábbado DÂngelo mesmo, na rua Sábbado DÂngelo. Mas no centro dos convertidos? É uma sede. É o que o centro dos convertidos? É uma sede de jovens, mas eu nunca me aprofundei. Mas é da Igreja? Não. É uma, uma, uma seita deles, né, uma seita católica também, mas é, é muito antiga, eu, eu nunca me aprofundei nada na religião deles, tinha filhos, alunos meus que freqüentavam lá na época, mas eu nunca me aprofundei, eles são assim um povo mais rígido na religião. Sei. E lá nessas casas da sede Sábbado DÂngelo não tinha um campinho de futebol? Tinha uma quadra e nós íamos morar lá, tanto as moças como os rapazes jogávamos futebol lá, a gente não tinha nem uniforme, nem nada, né, era, era calça comprida, né, bermuda, né, mas calça comprida, naquele tempo nem calça comprida usava, né? Eu, na época que trabalhei, no início da Escola Estrela Dia, o professor, diretor da escola não permitiu que nós déssemos aula de calça comprida. Tinha que usar saia? Era de saia, né? Mas quando nós íamos jogar, usava uma calça até o meio da perna, que é uso hoje, né, mas... Nada muito curto, né? É, mas nós jogava nisso, bola para valer. E eu tinha, bem depois de jovem, a gente formava grupos, depois que veio as irmãs Marcelinas já, aquilo já melhorou muito, estava com luz, água, em 51 veio a luz para Itaquera, né, depois veio o telefone, aí começou já aquele negócio, política eleitoral, depois eu vou passar para vocês. E foi assim que Itaquera evoluiu muito, num piscar de olhos que Itaquera evoluiu, mas foi muito empenho dos antigos, a família do Dito Salim também colaborou muito, era umas famílias italianas que tinha...No momento assim passar nome de todas as famílias é, mas muitas que tinham armazém, que tinha o açougue aonde a gente fazia compra, então... E era onde? No centro, ali em frente onde é o Senac. Ali tinham o armazém, e tinha o armazém também do Salim Adi, que é o pai do Dito Salim que é o nosso vereador aí. Tinha o armazém, nós fazíamos compra lá. E os empregados vinham, faziam compra com vale e a minha mãe vinha e pagava no armazém, você entendeu como é que era? Os empregados vinham, faziam compra com vale, uma certa quantia, aí depois, ou vinha nós, a cavalo, ou vinha minha, meus pais e vinha e pagava os armazéns, que faziam compra aqui no centro de Itaquera. E abatia no salário deles? Isto, abatia no salário deles. Entendi. E esse comércio era perto da estação? É pertinho. Como é que se deu o crescimento do comércio assim atrai... Que evoluiu? É. As famílias antigas, é, foram se praticamente se organizando, né, aí começou um posto de gasolina, aí tinha vários armazéns, começou a ter vários armazéns, né, e açougue, então ficou tudo naquele centrinho, depois é que foi expandindo, entendeu, através, sempre que começa um bairro através de uma Igreja, né, uma estação, né, então começou como a estação de Itaquera. E a Igreja principal qual é? É a Nossa Senhora do Carmo. E a sua família tinha assim vida religiosa? Tinha, tinha, bastante, né, inclusive meus pais trabalharam muito para as comunidades e uma delas foi essa Igreja São Pedro, que tem na Vila Matilde, a catedral, que meu pai ajudou e nós levantamos a Igreja Cristo Redentor, dali da Cidade Líder, com um grupo de jovem, que na época eu fazia parte e a Igreja Nossa Senhora da Aparecida, na Vila Bandeirante, que lá nós, tijolo por tijolo nós levantamos aquela Igreja, de domingo... E esse lugares fazem parte de Itaquera ou são outros bairros? Parte de Itaquera. São sub-bairros? Sub-bairros. Porque um bairro começa a evoluir desde que você faça alguma coisa, se você faz uma Igreja, então já vai, o povo já começa a aparecer, dali você já aumenta, faz uma escola, né, já começa a cativar as crianças, primeiro era fácil, agora está difícil, né, então estou dizendo, nós conseguimos levantar essa Igreja Cristo Redentor com grupo de jovem, que na época, é, nós começamos um grupinho na Líder e vamos fazer isso, vamos fazer aquilo, então nós reunimos com as irmãs do asilo dos velhinhos, asilo. É aquela cidade dos velhinhos? Asilo dos velhinhos. E nessa época aí nós fazíamos grupos em que para poder nós arrecadarmos alguns trocadinhos para nós fazermos a nossa igreja e para ajudar elas fazerem o asilo, a parte do asilo, nós fazíamos pedágio aqui no farol, aqui no cruzamento aqui da avenida Líder com estrada de Itaquera, nós fazíamos pedágio ali, sábado, domingo fazíamos pedágio com a bandeira e nós fazíamos aquelas roupas que estavam muito na época, coisas do México, aqueles ponche, aqueles chapéus grande, de palha, e então nós se iniciamos desse jeito. E as irmãs, irmã Maria Luíza, ela vinha com alguma idosa e deixava do nosso ladinho ali, então ficávamos o dia inteiro. As pessoas entravam lá. Pedágio, fazíamos pedágio, foi que nós ajudamos ao asilo e nos ajudou a construção. Da igreja. Do começo da igreja. Isso era o que? Década de 60? Já é, 60, 59, 55, 55 até 59 não tinha quase nada, né, aí de 60 para cá aí já evoluiu muito, aí já foi demais, conseguia as vezes até um pouco a mais para poder as cosias, porque como era um grupo de jovens atuante e forte, que eles notaram que nós éramos de confiança, que eu desde menina tinha esse jeito de buscar as crianças nas casas e devolvia, naquela horinha que eu marcava, devolvia a criança para ensinar a orar, ensinar alguma coisa da vida. Então eu era muito pontual, eles confiavam muito em mim, então às pedreiras eu levava o ofício, então eu ia pessoalmente, eu tive muito apoio das pedreiras que davam pedras para nós levantar as igreja, o asilo dos velhinhos. Pedreira União, pedreira de Itaquera foi base fundamental para isso, para o asilo. Dona Madalena, a senhora ouviu dizer que no asilo tinham muitos abrigados da segunda guerra, russos? É, tinha estrangeiros também, né, porque eles, tadinhos, ficavam aí, como é que eles iam sobreviver sem família. A senhora não chegou a conhece-los? eu vi muitos, mas eu não, não, não, por distância da minha casa para o asilo, para chegar no asilo, a gente praticamente se encontrava no meio do caminho, né, porque eles vinham de lá e nós vínhamos daqui, se encontravam aqui no cruzamento e já era mais difícil de eu chegar lá, mas quando eu ia eu via que tinha estrangeiros, forma aplicadas, a irmã Maria Luíza era uma mãe, ela recolhia todo o mundo, não tinha esse negócio de dizer é japonês, ou é alemão, ou é italiano, ela ajudava quem precisava, dentro da medida do possível, né? P/1 Falar nisso, quando a senhora estava contando do seu pai com o seu Yshioka, como é que era o comportamento dos italianos com os japoneses aqui? Era, não se entendiam muito em língua mas chegavam na expressão, eles se entendiam o que um queria do outro, né? Então como eles viajavam muito no trem, e que muitas vezes foram jogados para fora do trem, são coisas doídas que a gente nem devia estar contando, mas que aconteceu com meu pai, então eles se uniu, porque eles tinham que vir a pé sozinhos, então eles vinham a pé juntos, conversando, procuravam se entender da melhor maneira. Meu pai italiano, os Bassi também vinha de descendente italiano, mas já falava mais o português, e mais a família do seu Yshioka e vários japoneses da colônia que tinham mais dificuldades, mas como eles eram muito prestativos, entoa se entendiam, plantavam juntos, japoneses vinham ensinar meu pai plantar a, o pêssego, meu pai ensinava a eles a fazer o vinho, e era assim, era aquele, era aquela comunicação, sabe? Então eles se davam muito bem, tinham muita amizade mesmo com linguagem diferente, eu fui criada praticamente no meio da japonesada lá na colônia. Eu trabalhei também, em 60, eu trabalhei nas primeiras festas da colônia, porque eu trabalhava na Singer, então eu fazia demonstração das máquinas. Festa do pêssego? Festa do Pêssego. Então a Singer tinha um box onde eu trabalhava. Que mais que tinha na festa do pêssego? Ah, todos as firmas montavam box e no começo da festa, né, e no começo da festa não tinha nada, era só mesmo a, os pêssego mesmo e convidava o povo para fazer uma festa, né, depois é que foi fazendo, entrando firmas fazendo box com adubo, com, com, com parte da agricultura, né, então que foi aumentando, depois se acabou também. Era de terra, para chegar lá nós íamos com carro, um fordinho 31 que tinha na pedreira, que o meu irmão mais novo era motorista do caminhão e nós subíamos tudo no caminhão e ia na festa do pêssego, chegava na roda, chovia, tinha que por corrente na roda do carro e empurrar, olha, mas era... (riso) Era um drama.

 

R - Era um drama que não acabava mais. E para nós, fomos criados assim, é que para nós não tinha tempo ruim, sabe, é, eu muito menina já dirigia os caminhão na pedreira, é ajudava meus pais, que meu pai além de ser administrador, ele apontava ferramenta, sabe, apontar ferramenta é usar um fole que eu tenho, que eu vou por nessa exposição, se Deus permitir que eu consiga o caso da memória, eu vou levar um fole, que ele era tipo um coisa de couro grande e então você puxava uma corrente, ele então fazia o vento para que o carvão coque, ele é um carvão mais difícil, então colocava todas as ferramentas lá dentro para acender o fogo, acendia e esquentava a ferramenta, tirava em brasa, que nem o ferramenteiro, né, e depois com a maceta ele amassava e apontava todas ferramenta, fazia ponta no que era de ponta, fazia lâmina no que era de lâmina, tudo feito no fogo. E então nós éramos pequenininha, eu com cinco aninhos já puxava a corrente do fole para o meu pai apontar a ferramenta, a ferradura do que colocava nos amimais, né, depois começou com uma outra família Martins, lá de Itaquera, que ele fazia a ferradura para os cavalos, né, ele era Martins ferrador, que ele chamava lá. Se especializou em ferradura? Em ferraduras, porque a condução era charrete, cavalo, carroça, que não tinha desvendado a avenida Líder foi aberta com carroça. Então era necessário que tivesse uma pessoa especializada nesse assunto, né? Dona Madalena, e como é que eram as paqueras aqui no bairro, onde é aconteciam dos jovens? Era no cinema, lá no centro de Itaquera, né, na estação. Ah, é? E depois que veio o cinema, primeiro cinema, ou então na igreja, né, porque é, ia na missa, né, a missa era em latim e era obrigado a ir. (riso) É que minha mãe, ela fazia as nossas orações, minha mãe rezava em latim e nós respondíamos a segunda parte da oração em português.

P - O padre rezava de costas para a platéia? Muitas vezes, né, que era aquele início, né, tinha muitos detalhes, muita coisa que a gente, tinha que ser, era rígido, né, a religião era muito era muito rígida. Eu não fui muito, muito também com religiosidade, né, mas não tinha outra religião, era católica que a gente conhecia, para você ver que a fazenda do Carmo era da ordem três do Carmo, não é isso, Ordem Terceira do Carmo. É da Ordem Terceira do Carmo, que era fazenda, depois é que foi passando por Bento Pires depois chegou para o Oscar Americano, mas de primeira era da Ordem Terceira do Carmo. Por que um lugar é chamado Iguatemi, a senhora já ouvi falar? Já tem, já existe bairro de Iguatemi, todos os nomes daqui da região é indígena: Ita, Guaianaeses, Itaquera, vem da pedra, pedra a dormir ou pedra adormecida, como eles dão nome, ita é pedra. Então Itaquera, todas as partes ali é tudo quase partes, nomes indígenas. Iguatemi era uma chácara? Era, era tudo chácaras. Era para lá da colônia? É bem para o lado direito da colônia, já mais longe, bem para a frente da colônia, Iguatemi, eram tudo chacareiros e olarias. Das olarias. É das olarias, mesmo lá na Francisco Matarazzo, onde tinha, onde eu morava, tinha a fazenda do Francisco Matarazzo, que era só eucalipal, mas quando passava da fazenda, no fim da fazenda era tudo olarias. Tinha rios, aqui mesmo onde nós estamos aqui no metrô era um rio, onde o pessoal pescava, dia de domingo a diversão era vim aqui pescar, que é do lado da pedreira, então aqui é, aqui mesmo onde está a estação Corinthians-Itaquera era um rio, onde o pessoal pescava.

P - Era o rio Jaú, é esse? É deve ser o rio Jaú, né, não estou bem ligando, eu tenho também aqui anotado o nome do rio aqui, e tinha um outro rio que agora hoje, lá está sede CDN, da Cidade Líder, ali era um tanque, era uma mina de água, é um pouquinho para lá da pedreira, e o pessoal divertia tomando banho no rio, né? E um dia surgiu um jacaré, então até hoje eles chamam tanque do jacaré, agora tem a pedra ainda lá, que deixaram a pedra, mas lá hoje é o clube do CDN. Então de domingo assim, porque dia de semana os meninos trabalhavam e muito, não tinha essa de ter sábado e domingo, tanta pessoa mesmo hoje que mora na fazenda não tem sábado e domingo, é tirar o leite, cuidar da criação e de tarde meu pai deixava nós ir, deixava assim umas horinhas livre, quando eu não ia muito para jogo, para jogar assim que formava os timinho, então ele ajuntava lá. Ajuntava com os colega de escola, então eles ficava nadando, aí que eu me lembro do jacaré, né? E tinha outras brincadeiras infantis? Ah, tinha muitas, tinha aquela de pular por cima do outro, né, tinha os tambor de óleo, mas quando estava vazio, nós colocávamos com dois calços e punha uma tábua em cima e fazia como giratório, como um tanque hoje, né, ficava um de cada lado, tipo gangorra, só que nós fazia tipo de competição girando em cima do tambor, vê quem ficava mais tempo, né, ou andando em cima do tambor. Então diversões. Então quando ainda era pedreira? É, porque lá tinha óleo, né, para os caminhões, tinha uns tambores vazios, a gente aproveitava para fazer brinquedos.

P - Você nadava no rio? Não, eu mesma não, tenho muito medo de água, eu não ia nadar. No começo minha mãe lavava a roupa, que tinha a bica, né, que chamava, então tinha a nascente da água e mau pai fazia os, colocava bambu dos grosso e canalizava a água no bambu e a onde caía que nem uma cachoeira, né, aí onde minha mãe, e vai o pessoal da pedreira, né, da, da, do acampamento lavava a roupa, se ajuntavam todas aquelas senhoras e lavavam a roupa no rio, depois que foi abrir assim, aí depois começaram, quando os Rigghis compraram a pedreira, então eles abriam, abriam poços, poço mesmo, não poço artesiano, poço mesmo aprofundando, é tinha pessoas que já nascia com esse dom, eles andando descobria aonde dava água, então eles furavam dez, as vezes 11 metros de profundidade e tinha, dava água, e depois colocava o sarilho é um, um...rolo de madeira aonde enrolava a corda e a gente virava com a mão, chamava sarilho, né, davam esse nome, e a gente rodava aquela manivela, a corda enrolava na madeira, naquele coisa de madeira e puxava o balde de água do poço. Que anos que os Rigghi compraram a pedreira, a senhora sabe mais ou menos? Foi 40 e pouco, eles comprou em 49. Eles que introduziram o poço? Eles começaram a fazer as casas, né, os operários e fazer o poço para ficar uma água mais saudável do que aquela do rio que a gente muitas vezes, é, assim, no começo que não tinha, não vivia ninguém, então a água super limpa, né, mas depois que começa a vir muita gente então ficavam preocupados, então começaram a abrir poços cada, cada casa tinha um poço. E como é que era para cozinhar? Pegava água do poço, tinha fogão de lenha... Mas como assim do poço? Ah, pegava água da nascente. Da nascente. Carregava com latas, nós criança carregávamos as lata de água todo o dia antes de escurecer, para que ficasse todos os baldes e as latas cheias de água, nós íamos buscar no rio, na nascente, e era uma água cristalina, uma água puríssima, depois que abriu os poço então já pegava lá, é, minha mãe tinha o forno de lenha, fazia o pão, fazia tudo em casa, né, fogão de lenha, mas não faltava nada porque meu pai também tinha criação, então uma vez cada quatro, cinco meses matava um porco, né, então minha mãe tinha banha, tinha lingüiça, tinha tudo, não existia geladeira mas tinha as latas de banha aonde a mamãe assava carne e punha em baixo da banha, ficava três, quatro meses sem estragar, era conservada dentro da banha.

P - E as frutas, como é que vocês faziam para conservar? As frutas, para conservar não, porque era assim, fruta tinha a vontade, então comia, caía, todo o mundo, todos os, meu pai nunca negou que todos pegassem fruta, sabe, tinha bastante. Ah, meu pai tinha pêssego que era daqueles pêssegos selecionado, mas primeiro era uva, certo, que papai fazia o vinho, depois vinha o pêssego, e depois de tudo tinha, tinha ameixa, é goiaba, e de tudo quanto era qualidade de fruta que você conhece existia, que era mato, tinha pitanga, amora, tudo isso, pé de amora, aquelas grandes. E tinha também, meu pai, depois que ele arrancou os pés de uva, nós fizemos plantação de caqui, então nós vendíamos no mercado municipal, isso já pouco em 1900, já em 70, 65, em 60 meu pai já começou a plantar os pés de caqui, então aí já começou daí para cá era só caqui, até pouco tempo, até 80 e pouco nós tínhamos caqui, plantava e colhia na época certa, estufava com esse carbureto, que eu estou falando, a serragem e depois nós arrumávamos em caixa e meu irmão levava com o caminhão para o mercado, que é o mercado ali do Parque Dom Pedro, o mercado bem lá embaixo do parque Dom Pedro. E a senhora se casou dona Madalena? Casei em 68. Como é que foi? Eu trabalhava na Singer na época e dava aula a noite na Estrela Guia, depois eu conheci meu marido, ele veio de Taubaté e ele veio também para aventurar, né, e ele ia para um outro lugar que não fosse Itaquera, depois um colega arrumou para ele trabalhar aqui em Itaquera numa panificadora e aí foi onde a gente se conheceu. E aí casei em 68. E teve festa de casamento? Não, eu não quis festa de casamento porque eu tinha perdido meu pai, eu perdi meu pai em 67, então eu não fiz festa de casamento porque eu, sabe, a gente cria um ídolo nos pais da gente, então eu não fiz festa, mas meus irmãos. E aí é para ficar para vocês, meu pai era o pioneiro das festas de São Pedro, que alguns que você vai entrevistar em Itaquera vai falar que é a festa máxima, que era dia de São Pedro e dia de reis, dia 6 de janeiro, que era festa de Santos Reis.

P - Tinha o que lá? Então tinha os sanfoneiros, os violeiros, né, que era da pedreira aqui, iam para minha casa na pedreira lá, lá eles faziam uma festa, dançavam a noite inteira. Dia de São Pedro e dia de Reis, fazia os Santos Reis, né, aí já foi uma tradição que o papai pegou daqui, certo?

P - Dia dos Reis Magos? É, foi dia dos reis. Então por motivo dos empregados da pedreira, então começou misturar festa de São Pedro, depois festa de Reis, mas a nossa festa era Dia de São Pedro, foi feita, fez 53 anos que meu pai levantava o mastro com a bandeira de, das imagens de São Pedro e eu faço isso até hoje, fiz esse ano também 24 de junho fiz agora a festa de São Pedro. Esse empregados tinham outras tradições além destas que a senhora está contando? Não, mais eram essas mineiras, né, Minas, né, festa de congadas, né, então começou nós acostumarmos com as festas deles também, né, mas era sempre feito lá dentro, porque o povo de lá parecia que era uma família só, “é nós vamos para tal lugar”, falecia alguém, vamos todos juntos para lá, levava os mantimentos para passar a noite inteira nos velórios, sabe, antes de ter o cemitério aqui de Itaquera, o cemitério era em São Miguel, e o povo levava o corpo muitas vezes em lençóis até São Miguel onde era o cemitério. Quando foi construída o cemitério? É aqui não tenho idéia, tenho por escrito, mas assim de mente eu não me recordo agora quando que botaram o cemitério de Itaquera. E é longe São Miguel? Ó meu Deus, é longe, tem acho que uns 20 quilômetro, daqui da onde eu moro até lá, é longe de mais de Itaquera lá, você nunca foi em São Miguel? Não, eu não conheço. É longe, é longe. É um bairro que começou, Itaquera começou por São Miguel, né? Então era uma tradição gostosa, dos meus pais eu tenho recordação, dos meus irmãos que se foram também, que eles sempre foram, nós sempre fomos muito unidos até hoje, a sobrinhada que estão aí nova, todos unidos, se une para uma festa. Domingo já fizemos festa, todos os sábados e domingos tem na casa de um. Essa história do casamento também tem onde a gente viu a foto? É assim, os casamentos eram feito na, casava aqui na Igreja Nossa Senhora do Carmo e depois tinha a festa na casa dos pais do noivo. Ah, do noivo? Da noiva ou do noivo, é a festa sempre era na casa da noiva, mas era sempre unido, porque geralmente os filhos se casavam com famílias, por exemplo assim, os meus irmãos casaram com três da mesma família dos portugueses, ficavam ali, se conheciam, pegava amizade, acabavam namorando e casando, e a mesma coisa acontecia com os casamento. Então a festa era na pedreira, porque lá tinha um galpão onde eram guardados ferramentas, tambores de óleo, então quando tinha um casório todo mundo trabalhava, limpava, todo mundo trabalhava para fazer doces e salgados, porque não tinha esse negócio de comprar fora, então cada família fazia um tipo de comida e ajuntava todo o mundo para o casamento. Mas aí era de filho dos donos da pedreira, não? Não, não, não. Qualquer pessoa? É de empregados. De empregados. De empregados, de moradores de Itaquera, né, casava um, ia todo o mundo lá, ajudar, participar do casamento, sabe, famílias mesmo, que nem tem no sul hoje, né, eu fui para o Rio Grande do Sul, tem várias colônias aonde eu estive que estão ainda com o mesmo tradição. Então a tradição era esta, todo mundo se ajudar, todo mundo pobre, mas se ajudava, sabe, porque quando minha mãe tinha muita criação ela dava para os que tinham pouca ou não tinha nada, ensinava aquelas pessoas que eram humildes e não sabiam nem sobreviver, então mamãe como tinha assim um pouco mais de conhecimento é de vida, então ela ensinava as pessoas que nada sabia fazer. Então ela dava uma galinha, aquela galinha já dava ovos, já tinha pintinho, já ensinava a pessoa a sobrevier com aquela criação, entendeu. Ensinava fazer o pão, que tinha pessoas muito idosas, tinham pessoas, a maior parte eram de cor, né, e não sabiam fazer, então minha mãe ensinava a eles a sobreviver. Essas pessoas de cor vieram de onde? Ah, muitos, muitos natos em fazendas aqui, Fazenda do Carmo, que ali era uma fazenda, tinha muito, inclusive eu tenho um amigo, que é vizinho, que nasceu lá e trabalhou lá. então eram fazendas de perto e que tinham as pessoas nasciam lá, se criavam... Que eram escravos, descendentes de escravos? Gente descendentes de escravos. Seu pai contava, quando ele chegou já tinha acabado a escravidão. Tinha a família... Mas os que empurravam pedras nas máquinas aqui, a maior parte eram negros.

P - Eram negros? A maior parte. E os estrangeiros que viviam aqui, mesmo o pai do seu Pedro, ele trabalhava de sol a sol, não tinha essa de dar mole. Aqui era a área do trabalho. eu chegava da escola, tinha que ajudar meus pais, se tinha que plantar para comer, tinha que plantar, você entendeu? Não tinha dia, não tinha sábado, domingo, nada, né? Dona Madalena, depois desse trabalho onde a senhora ajudava seus pais, onde foi seu primeiro trabalho oficial, vamos dizer assim? A Singer. Singer. Trabalhei na Singer. Que ano a senhora entrou lá? Porque foi, foi em 60. Porque foi o seguinte eu, é, nessas atividades que eu fazia com jovens, com grupos de jovens, que a gente se unia e fazia essas atividades, eu tive a oportunidade, que o meu pai era sócio do Círculo Operário de Itaquera, foi a primeira entidade que lidava com operários, ajudava em muitas coisas e, como se diz, a coordenar, a orientar o empregado. Círculo Operário era, se formou um grupo de uma associação e formou o Círculo Operário. E lá o meu patrão, que era o meu professor, João Flores, ele começou com uma, ele era professor no Álvares de Azevedo, ele veio do interior, ele e a esposa, se fixaram aqui em Itaquera, se formaram professores e davam aula no Álvares de Azevedo. E nessa época ele começou com uma máquina no Círculo Operário, que era um sonho dele, que ele tinha tido um sonho, uma visão, e ele começou com uma das máquinas. E eu fiquei, e foi aí que eu comecei a conhecer o pessoal do Círculo Operário, porque eu vim aprender corte e costura, começou essas entidades a formar, é, a ensinar jovem, então tinha, a primeira coisa que a gente aprendia era costurar. Então eu entrei no Círculo Operário, daí eu conheci o João me conheceu e falou: “é melhor você aprender datilografia que você tem capacidade, você é meia líder, é bom você começar sua vida, que você não vai poder viver a vida toda no meio daquele mato onde eu morava, né?” Então foi que ele deu essa oportunidade de eu fazer datilografia. E onde a senhora fez o curso de datilografia? Aqui em Itaquera. Tinha um curso aqui? É ele começou, seu João começou a dar aula.

P - No próprio Círculo Operário. Isso. Depois ele montou, ele mesmo montou uma escola com mais algumas máquina, ele e a esposa davam aula. Depois foi que ele pegou mais uma senhora, que dava aula, começou a dar aula, começou a aumentar, começou a aumentar, porque o antigo de Itaquera já começaram vir os netos, os, né, e já começou a estudar um pouco mais os filhos, tinha o Dr. Medeiros que foi uma peça muito importante na nossa região, né?

P - Era que ano mais ou menos, dona Madalena? Do Círculo Operário? Ah, Círculo Operário está desde, olha, acho que é da década de 49 para 50, ou antes ainda, eu também tenho a história deles, eu tenho a história do Círculo Operário. Que outras atividades tinham lá? No Círculo Operário? Tinha corte e costura, tinha para escoteiro, tinha...

P - Tinha escola de alfabetização? Começou com uma escola também lá de alfabetização, sabe, é, tinha várias atividades, aí depois foi que ele trouxeram um médico... tinha o Dr. Sílvio, que ele começou, já começou vir pessoas de outros, todos aqui sim, é, Dr. Sílvio era do interior, vinha outro de São Manuel, outro vinha de Bauru, outro, começou vir mais gente para Itaquera de como de Estados aqui em São Paulo, entendeu. E aí começou formar já, esse vieram com um pouquinho mais de oportunidade que já tinha um pouco de estudo e estudaram os filhos, Itaquera tem vários advogados que nasceram, se criaram e estudaram aqui para advogados, tem várias famílias. E aí foi que eu comecei fazer datilografia, e o professor João também começou a aumentar, nessa roda de grupo de jovem, eu comecei levar jovens para escola, para fazer datilografia também e cartório de Itaquera, aí veio o cartório, que veio, já montou o cartório e todos os funcionários eram obrigados a fazer um curso de datilografia muito rígido, por sinal, e...

P - É quanto tempo o curso? Um ano, um ano de curso de datilografia. Aí foi que eu comecei a ajudar eles e comecei dar aula só aprender, a me aperfeiçoei na datilografia em todos os pontos a montar, desmontar uma máquina, que era obrigado a saber, você aprendia o curso de datilografia, você era obrigado a aprender a desmontar a máquina e montar novamente. E na Singer não foi diferente, o grupo que era dono da Singer eram alemães super rigorosos, eu entrei num curso para fazer um curso de, para mim poder dar aula, é, como lidar com a máquina Singer, eu tive que aprender. Era máquina de costura, né?

 

R - Aí já era máquina de costura, e de bordado também. Então eu fiz o curso e dava aula para a japonesada, japoneses vinham com os filhos, que eles não sabiam falar português, então eles traziam a criança, a criança já era alfabetizada em português na colônia e então as crianças passavam para os pais, já dava aula. Os filhos ensinavam para os pais. É, eu, eu dava aula, as crianças passava em japonês para a mãe. Ah, e de datilografia também, eu tinha alunas japonesas que não falavam nada, trazia o pequenininho do lado, e falava, tudo o que tinha que falar as crianças falavam para as alunas.

P - Vocês terminavam o curso, recebiam o diploma? Tem diploma, eu tenho meu diploma ainda, guardadinho, desde 60. E então, e aí foi que eu comecei foi minha vida assim, comecei a dar aula na escola de datilografia. Quantos anos a senhora ficou lá? 30 anos. Como é que chamava a escola? Escola de Datilografia Estrela Guia. Depois acabou? Acabou a escola de datilografia, tem uma outra escola que é nova Estrela Guia, que praticamente está usando o nome, porque meus patrões foram embora, eles estão em São José do Rio Preto. Mas aí é de computador agora? É, tinha datilografia e computação, no fim pusemos computação também, faz uns, desde que saiu computador nós colocamos também, além de datilografia colocamos computação. Fiquei eu e uma sobrinha, que infelizmente faleceu de aneurisma, que foi professora, Aparecida Relvas, foi professora também, 30 anos, na Estrela Guia, ela começou comigo e só saiu porque faleceu, deu aneurisma e ela morreu na própria escola, Estrela Guia. Dona Madalena, vamos mais para perto um pouco, a senhora lembra da época da construção do metrô? Lembro. A senhora acompanhou de perto? Ah, eu vinha de vez em quando ver a construção, quando começou, aqui era rio, que eu estou te falando, né, era um rio onde havia pescaria e tudo, né, aí começaram as obras mais... O que eles fizeram com o rio? Aterraram? Ah, eles desviaram, porque tem um rio que passa aqui pertinho, então eles desviam a água, depois que você faz um dreno, você vai desviando a água e acaba, né, secando, aqui foi feito muito bonito, foi uma estrutura muito bem organizada.

P - E depois aterraram o rio para a construção do metrô ou foi antes? Para a construção do metrô, para construção do metrô, tinha aqui ainda tinha bastante água quando eles vieram, mas já não tinha tanta não, mais era terra mesmo, quando eles começaram aqui, e pedra, né, filha, porque aqui, aonde você cavouca, passou de 10 metros, pedra.

P - Tinha problema de enchente quando chovia por causa desses rios? Tinha em 1960 ate 70 e pouco, isso aqui era uma tristeza menina, êta meu Deus Todo o ano de chuva, aqui era todo alagado, essa parte aqui debaixo, que era agora, né, essa avenida que vem parar aqui...

P - Como é que chama?

 

R - Radial, é o pai do administrador da pedreira aqui, é... Dalilo? É pai do seu, seu Pedro Dalilo, não é Depois a gente olha. ...é o antigo dono da pedreira de Itaquera, aonde o pai do Pedro Dalilo trabalhava, né, que é o nome da rua ali, era Itaquera-Pinheiros, que passou. E ali que dava enchente? Dava, e bastante, ainda dá de vez em quando, sabe, ainda, mas já é menos, né, porque eles alargaram o rio, então a infra-estrutura que está fazendo também já diminuiu bastante, mas assim mesmo ainda, se chover muito, ainda alaga. O que tinha aqui além do rio? Tinha aqui um grupo de casas, que inclusive um menino estudava comigo e trabalhava no cartório do Jaime, eles tinha uma casa aí foi soterrada, o metrô pagou tudo direitinho, e eles moram no centro de Itaquera, tinha um bom grupo de casas, e o restante nem foi preciso mexer, mas essa ponta aqui, né? A senhora vê se teve transtorno assim em trânsito, teve que mudar algum sentido dos caminhos? Muita coisa não, né, porque eles fizeram, aqui ficou, quando pegou a Radial, que a Radial foi feita bem antes, né, então a Radial praticamente desafogou todo o transito, porque de antigamente todo o mundo tinha que passar pela Celso Garcia, avenida Celso Garcia, depois que fizeram a Radial o trânsito desafogou, agora está cheio de novo, mas desafogou completamente, entendeu? E aqui eu acredito que não teve até muito transtorno não, ficou bem fora, né, só mais para o centro, né, para o centro sim, mas aqui em Itaquera eu não achei que pegou muito transtorno.

P - A senhora lembra o dia da inauguração do metrô? Ah, lembro, lembro desde as primeiras, quando inaugurou lá no centro da cidade, depois veio para o Tatuapé, né, todas as estações que vinha inaugurando eu sempre acompanhei. A senhora ia? Ah, eu ia nas inaugurações das estações. E daqui de Itaquera, como é que foi a inauguração no dia? Ah, foi linda, foi uma emoção só, na época o Mário Covas era prefeito, né, e como faz, faz, faço até hoje parte de todos os movimentos que protegem Itaquera, então eu recebi um convite para mim pegar o metrô lá na Barra Funda e vir direto com a comitiva. Ah, é? É, eu vim no vagão do Mário Covas, na época Orestes Quércia, né, vinha na comitiva dos engenheiros, eu vim conversando com os engenheiros que tinham feito aqui, que eles disseram que protegeram tanto as plantas, que tinha um pé de gabiroba, não sei se você conhece uma frutinha que dá no campo e um pé de pitanga que ele ficou com dó de arrancar e de passar o trator, ele arrancou e levou para a casa dele e eu nunca esqueço dessa, de um engenheiro daqui do metrô. (riso) Levou a mudinha? Levou a mudinha de gabiroba e da pitanga. Foi muito gratificante. E como foi a primeira vez que a senhora andou de metrô? Ah, lembro. Qual é que foi a sensação? A mesma sensação que a gente conhece uma coisa diferente, né, nova, né, você se sente bem, se sente feliz, porque falou: “conseguimos, né, as coisas para o nosso país”, né, uma luta, né? Inclusive o medo. Não, não sou muito medrosa não, eu não tenho muito medo não. (riso) Vai frente aos obstáculos até hoje. (riso) Vamos falar um pouquinho do seu projeto agora da casa de memória. É, meu projeto, eu além de fazer todas essas aventuras na minha vida, né, eu continuo já com meus 15 anos eu já mexia com coisas que trouxessem benfeitorias, porque eu sofri muito no pedaço que eu estava, muito mato... a gente jovem ficava isolado do mundo, então eu sempre fui trazendo coisas para a nossa região. Quando começou sair os títulos para poder votar, eu consegui através de uma professora de corte e costura, tirar títulos para todos os funcionários da região, da pedreira de Itaquera, através do Círculo Operário que estava lá, então eu fazia aqueles movimentos sem demagogia e sem mexer com ninguém, sempre respeitando, sabe, pegando aonde, punha o pé aonde eu acho que posso por. Então desde aquele tempo fui trazendo tudo isso para cá, e agora, como eu fiquei sabendo que estava sendo desativada, a estação Itaquera para vir esse trem que vai direto, foi inaugurado ali na Dom Bosco. O espanhol? O espanhol. Eu fiquei preocupada, porque eu falei assim: “eles vão me derrubar a estação”, e a estação está desde de 1965, é um patrimônio, e ela tem uma estrutura muito boa, né, então eu comecei falar: “meu pai, que eles não derrubem essa estação”, né, e como eu estou estudando no Castelo, eu passo por ali todo o dia, aí eu comecei esse movimento assim, desde 82, eu faço, eu fazia teatro, no Parque do Carmo, que vocês já ouviram falar, Paixão de Cristo do Parque do Carmo, e eu entrei quando ele era capitão e então nós entramos através de Igreja a fazer um movimento a Paixão de Cristo, vamos fazer a Paixão de Cristo, vamos representar a vida de Jesus, né, e tiveram assim, se o grupo, né, fazia aqueles capacete com lata de óleo, com vassoura dessa de piaçá, começamos fazer um movimento, fazendo teatro, ficamos 16 anos fazendo teatro dentro do Parque do Carmo, e fomos proibida no ano passado. Que dia vocês faziam? No dia, sempre em abril, né? Em abril. Na semana Santa. E por que vocês foram proibidos? Proibidas porque tem um, tá rodando? Tá, se a senhora quiser, depois a gente edita, tira. Fomos proibida porque a gente levava mais de 40 mil pessoas para o Parque do Carmo, então foi uma tristeza muito grande porque nós fazíamos a Paixão de Cristo, não com o dinheiro dos outros não, com a nossa força e coragem. Nós éramos os atores, nós éramos os diretores, você entende, nós formamos o grupo onde eu ajudei coordenar e fazíamos a Paixão de Cristo. E nessa época eu queria fazer o museu de Itaquera, comecei a fazer um movimento dentro do Parque do Carmo, não deu certo, eu tive que sair fora. Aí surgiu agora, tá precisando de coisas recentes, que coisas assim passadas eu conseguia até sedes de associações e grupos de terceira idade, grupo de jovens, foi tudo levando para caminho, para encaminhar o jovem para a vida de hoje, que está difícil. E eu estou preocupada com o futuro agora e muito, porque a situação está feia, você não consegue salvar um jovem, e eu estou perdendo, perdi jovens do meu grupo com drogas, morrendo de AIDS, então a gente vai vendo o jovem se acabando. E eu queria por esse movimento lá na casa da cultura, junto com a casa da memória, que seria o museu das coisa de Itaquera, porque eu tenho trabalhado muito com escolas, e as escolas, as diretoras vêm buscar eu em casa para mostrar as coisas de Itaquera. Então fica as vezes cansativo, porque eu não tenho muito tempo, mas eu vou, eu não deixo de ir. Então as escolas vêm, pega eu em casa, eu vou, mostro as coisa de Itaquera que estão se acabando, praticamente quase não tenho para mostrar, e falo: “olha, querida, isso aqui era isso”, hoje não é mais, aqui era um castelo, existia um castelo aqui no centro de Itaquera, que era a coisa mais linda, não tem mais, aqui a estação vai ser desativada, então eu queria que a estação não fosse desativada, que eles pusessem qualquer coisa, um centro de recuperação para o deficiente, pode até ser. A casa da memória é onde o aluno possa ter acesso a fazer história de Itaquera, hoje em dia é um espacinho onde ele vai lá, ele vê foto, lê a história, pega no computador, que hoje é o meio mais fácil de nós colocarmos isso para que o jovem de hoje saiba o que foi, o que é, e o que vai ser Itaquera, eu vou e o jovem vai ficar, e eles precisam disso. Então eu não queria que morresse todas as coisas de Itaquera, né, emoção deixa para depois, e eu queria que o jovem um dia soubesse o que foi, para ele dar valor a onde ele nasceu, a onde ele vive, a onde ele come. Não, mas é muito bonito. Eu estive em várias reuniões, eu estive no gabinete do prefeito, eu já estive com o Dr. Marcos Mendonça, o secretário da cultura do Estado, eu já estive, segunda-feira passada eu já estive lá no Morumbi. ...Palácio do governo, ainda eu fui muito bem recebida, e os projetos estão aí. Aí disse que tinha 10 projetos e que o meu era o décimo, só que para saber realmente o que era que ia acontecer eu fui pessoalmente... eu fui pessoalmente com os meus colegas e fui na CPTM, que eu fui recebida pela dona Clélia, que ela faz parte do patrimônio da CPTM. E ele me deram muita esperança de eu pegar a casa, porque eu fui uma das que fui pessoalmente, cheguei primeiro, dão apoio para mim, para pegar a casa, então eu estou aguardando somente uma resposta daí do Estado, porque eu preciso de uma parceria, porque não adianta, eu vou pegar a casa, eu vou lá, se for preciso eu vou arrumar, limpar e ajeitar, mas não é por aí, né? Tem que ter uma parceria, eu acredito que com o governo para que eles me dê uma assessoria, que possa ser realmente uma casa da memória. E é governo do Estado, não município? É, do Estado, porque a CPTM faz parte com o Estado, então é por aí.

P - É patrimônio dela.

 

R - É patrimônio, e a estação é um patrimônio da CPTM, coligada com o Estado. Então todos esses documentos... isso aqui é apenas uma cópia, os documentos eu entreguei tudo em mão, o projeto, o que precisava, só que eu sozinha, minha mãe dizia que uma noz dentro de um saco não faz barulho não, eu entrei com grupo de desenvolvimento de Itaquera, Fórum de desenvolvimento cultural de Itaquera. E aí eu expus as minhas idéias e eles acharam, acataram muito bem, e com receio de todos que vai demolir a estação, na estação mesmo... A população, como é que se posiciona? De acordo absoluto de que a estação não seja demolida, a maior parte, e tem alguns que faz questão que passe a Radial direto. Por que é que a demolição pode implicar no quê? Por enquanto eles não podem demolir porque tem que aguardar o que eles vão fazer. Entendi, mas se demolir corre o risco de acontecer o quê? Passar a Radial ali? Eu acredito que sim, né, porque vai ficar livre, mas a CPTM parece que não está de acordo com a passagem, a CPTM ela acha que a população tem que se mobilizar e ver realmente o que nós queremos. E nas reuniões onde eu faço, é, toda a semana eu estou dentro de uma reunião, então a imprensa local tem me dado muito apoio, Casa da Cultura e as entidades, a Elite, Amaury, toda essa parte cultural, SESC, SENAC, está todo dando uma força que eu precisava, mas ele só falava assim (riso) eu sou apenas uma dona de casa, né, que luto pelo nosso pedacinho, tá, e eu não deixei de estudar, porque eu quero me aprofundar mais, me aperfeiçoar melhor nas coisas do nosso bairro. Depois que a senhora terminou o grupo escolar, a senhora parou de estudar? Não, eu fiz admissão, né, mas depois é aquilo, né, estudei mas não conseguia me formar porque a lonjura e não tinha condução, que começou... É lá no centro? É tudo, tudo no centro de Itaquera ou Carrão, centro, na Sé, naquelas partes , o resto não tinha mais nada por aqui. Faz quanto tempo que a senhora voltou dona Madalena a estudar? Eu nunca parei, nunca parei, faço cursos e vou, fiz o ginásio, mas não que eu não terminasse, mas fiz o ginásio, certo, e continuei sempre, estudo com meus filhos, acompanhando, sabe, participando de escolas, de grupos e de, e me aperfeiçoando no que eu acho que deve. Agora eu entrei na faculdade, eu me formo já esse ano. Ah, a senhora está na faculdade, que curso? Eu fiz, é lá é assim é um curso livre, então são seis meses direito, fisiologia, sociologia, plantas medicinais, nós usamos o laboratório, fazemos, aprendemos a fazer na prática as coisas, tudo é na prática, e todas as aulas que nós fazemos, ah, primeiros socorros, né, eu me aprofundei mais nos primeiros socorros e em direito, porque é uma coisa que mexe um pouquinho comigo, então eu me aprofundei mais nessa matéria. Agora no ano que vem eu me formo nessa livre e vou entrar na faculdade para valer. (riso) Enquanto eu tiver fôlego eu vou continuar. E assim só queria descolorar sua paciência só mais um pouquinho. Essas parte mais recente da história de Itaquera, eu queria que a senhora contasse como é que foram as construções das Cohabs, a senhora se lembra? Eu tenho, inclusive eu tenho história e tenho as foto em casa, como surgiram as Cohabs, como vieram as Cohabs, só que você acredita que eu tenho saído a semana inteira para levar crianças para cá, mostra para lá, mostra para lá, e as vezes passa também um pouco de você lembrar coisas assim de repente que me perguntem na hora. Eu tenho tudo fotografado, história, acontece alguma coisa eu procuro fazer uma história, certo, porque como surgiu, que nem agora, ontem eu saí da escola, eu fui pessoalmente conversar com uma pessoa que nasceu na casa onde eu vou pegar, se conseguir, a casa para fazer a casa da memória, eu preciso pegar a história daquela casa, então ontem eu já fui, já peguei um pouquinho, uma pessoa se prontificou também, que tem muita história para contar, seu Washington, não sei, ele já foi vereador por Itaquera, então tem muita coisa para contar. E ele viveu nessa casa da estação, então eu estou me aprofundando para saber a história dessa casa, como surgiu, quem era ou foi os chefes, que ali moravam os chefes de trem, chefia, então moravam nessas casas que é da CPTM até hoje, aquele bloco...

P - Tinha vila, né, antigamente tinham vilas, as vilas operárias, ali onde é a casa da estação era o chefe e aí ao redor tinha umas casinhas... E ainda é, ainda é porque eu fui na CPTM e ela me mostrou no computador essa parte que eu te mostrei, é nem mostrei para você, isso aqui é o projetinho que a gente vai fazer, tem que lutar, ai, onde que eu cortei. Isso é recente que eu tirei sábado. Ah, nossa Foto aérea. É, eu tirei, a moça me ajudou a dar em prazo. E onde que é aqui? Aqui é a estação. Ah, tá. E a casa. Aqui é aquele parquinho, passei por lá. Isso, aqui é a nossa avenida, a avenida do trabalhado, dos trabalhadores. Esse foi uma grande vitória, tá, que me desculpem os outros políticos, né, é ele teve força para fazer isso aqui, foi muito... Foi o Maluf que fez. Foi na gestão do Maluf. Foi na gestão do Maluf.

P - Não foi ele que fez, né? (riso) Gestão do Maluf. Foi uma luta muito grande isso aí também. Uma luta grande, essa das Cohab aí também foi uma luta muito grande, viu, de fazer as Cohabs para cá, porque lá mesmo onde eu moro, a divisa lá que era tudo eucalipto, hoje é a Cohab Anchieta, né, que eu moro ali pertinho da Cohab Anchieta. Ah, é? Aqui, é entre a Cohab Anchieta, entre a pedreira de Itaquera, eu moro aqui na avenida Lima. E como é que foi essa coisa da Cohab, porque a Cohab veio para cá, a senhora sabe como é que foi a história dessa Cohab? É, acho que é mais por causa dos bancos, né? O que mudou na vida do bairro? Ah, mudou tudo, né, foi uma virada muito grande, foi uma virada da noite para o dia, né? Porque veio tudo junto, né, aquilo fez uma cidade em pouco tempo num bairro que estava mato, que nem aqui na divisa aqui da Cohab Anchieta para chegar em Alvim, aquela parte toda ali era um eucalipal fechado. Então era triste, quando vieram as Cohabs aquilo ali virou uma cidade em D, como diz o outro, né? E aí logo construíram toda a infra-estrutura? Toda, toda, que quando veio, veio direto, fizeram aqui, fizeram a Cohab aqui chama um, Cohab dois, né, lá tinha a três, a quatro, todas acho que já abrangem até lá do Iguatemi, quem foi que me fez uma pergunta do Iguatemi?

P - Eu. Pega toda aquela parte lá toda, a Santa Etelvina, onde está tendo um bonito trabalho também lá agora, viu, de uma jovem que também está trabalhando muito lá, meio doidinha assim como eu, que está fazendo uns projetos assim muito bom, e até fiz um trabalho para ela no jornal, porque tem que trabalhar, tem que ser, né, tem que, e é algumas coisa... A senhora lembra dos operários levantando os prédios, a senhora chegou a ver? É, mas não conversar com eles. Sei. Mas o trabalho deles... Passava, via, via, era muito operário. P/1 Era? Eles chegavam e faziam uma vila de casas de madeira, né, tipo que como aqui, quando foi construído o metrô, e ainda tem aqui.

P - E era o canteiro de obras. Você olha tem o canteiro de obras, então eles vinham, em dois dias eles faziam todas aquelas casas. Para eles? Caixas de água, tudo, vinha que parecia formiguinha trabalhando. (riso) Aí vinha aquele maquinário já e começaram por maquinários, né, porque, como o que eu estou te falando, o sacrifício da avenida... ninguém fez, ninguém fez, essa estrada ela foi tão trabalhosa, tão trabalhosa, meu pai coordenava, na época ele era o administrador, então tinha um senhor que morava aqui embaixo que tinha os burro, que era feito com burros, não era a cavalo, burros, que eram burros de carga, né, e eles trabalhavam em olaria, que fazia, eles virava aquela máquina para fazer o tijolo, o barro, para fazer o tijolo. Então quando veio a companhia Líder, então eles começaram a vender lotes aqui, a Companhia Líder, que é do, que comprou da fazenda do Carmo, Munhoz, Francisco Munhoz, e eles tinham um banco, um banco ali na Wenceslau Brás, e começaram a lotear, fizeram o loteamento dessa avenida. Então fizeram essa avenida, e era um feito carregado terra com picaretas, com enxadões e faziam para marcar metragem, quanto que um homem tinha trabalhado, eles deixavam um, um tipo uma oca de índio, ima cabana assim de terra media de pino a pino, para ver quanto que ele tinha feito, para receber o empregado, quanto que ele tinha cavoucado, foi feito tudo a mão, meu pai coordenava. Para fazer a estrada da... Avenida Líder. E essa Cidade Líder é dentro de Itaquera também? É, pertence a Itaquera, pertence a fazenda. É um bairro. Aqui nós estamos na Cidade Líder. Aqui é Cidade Líder. Aqui é Cidade Líder, avenida Líder aquela, ela começa... Itaquera é muito grande, ela é muita subdivida, né? Grande, agora então que uniu Tiradentes, Iguatemi, Etelvina, Guaianases, tudo uniu por causa das Cohabs, então é um mundo aqui.

P - Dona Madalena, a senhora lembra quando chegou a luz elétrica? Lembro, foi em 51 a luz elétrica chegou.

P - É, e o que mudou assim na casa, no cotidiano da casas. Nem queira saber, né, igual outro dia, apesar que ficava sempre sem luz, né, tinha um determinado horário, não sei se era o transformador que não gerava o suficiente, né, mas foi, olha, foi uma dádiva, viu, foi uma conquista a luz. Depois da luz aí veio o telefone, depois veio a água, né?

P - Mas aí assim, na casa, na rotina da casa, vocês iam dormir mais tarde, o que mudou? Mas aonde eu morava não chegou a luz tão cedo assim linda, não, a luz para a minha casa agora chegou já em 60 mais ou menos, aí já meu pai comprou motor, então nós tínhamos gerador e a luz veio a pouco tempo se vai, ela veio em 70, 74, mesmo no bairro onde eu morava lá embaixo eu acho que veio em 70.

P - A senhora lembra quando chegou a energia na sua casa qual foi o primeiro eletro-doméstico que vocês compraram? Bom, eu tinha um rádio que era movido a bateria de carro, né, que era aqueles rádio amador, eu tinha o rádio, tenho até hoje guardado, por no museu aí. (riso)

P - Mas esse é com bateria de carro? Bateria de carro.

P - Com energia elétrica? Com energia elétrica, é, foi...

P - Televisão vocês compraram primeiro? Não, não, não tínhamos condições, uma televisão, até foi um irmão meu o primeiro que comprou, mas é tudo lá na casa da Ceci, se reunia tudo de noite e se ajeitava naquela turminha, né, e nós íamos bem longe, viu, íamos assistir televisão.

P - É, vocês assistiam? A primeira TV.

P - Vocês assistiam o quê? Eu ia assistir Moacir Franco, que tinha um programa de comédia lá o Moacir Franco, né, então nós íamos lá para assistir, os mesmo programas que a Hebe Camargo, a Tônia Carreiro, né, a gente gostava de ver elas na televisão, né? E depois aí com o tempo, quando eu trabalhava, eu comprei a TV, comprei minha televisão, comprei já minha geladeira, né, fui comprando, né, porque aí eu já trabalhava, ajudava minha mãe, ajudava em casa, né?

P - Sei. E a senhora comprou primeiro o que, primeiro a TV ou a geladeira? A TV, comprei a TV, depois logo em seguida comprei a geladeira, porque tinha muitos amigos, eles facilitavam, a gente ia pagando quando podia, né, mas era assim, a gente comprava quando podia, porque não podia, não era esse negócio de você compra aí, se você quiser deixar para pagar, você nunca mais paga, né, mas de primeira era um fio de barba que tinha mais do que hoje, uma duplicata assim, né, de cartório. É de confiança, essas famílias que eu tenho aqui, que eu tenho amizade, que eu continuei com amizade com os filhos, né, porque eu era assim, eu era menina, mas eu lidava muito com pessoas de idade, eu dava muita atenção para pessoas de idade, sabe, eu cativava muito as pessoas de idade, ficava conversando, dando atenção, eu queria saber da vida deles, queria saber como é que eles sobreviviam, né, então isso me ajudou muito na minha vida particular, ajuda. Então essas famílias eram de Itaquera, com todo o respeito eu amo de, falo de paixão, sabe? Dona Madalena, e o que a senhora mais gosta nesse bairro, me diz aqui? Ah, eu gosto de tudo, (riso) tudo que diz a Itaquera eu amo, tudo. E o que a senhora menos gosta, tem alguma coisa que a senhora não goste no bairro? O que eu menos gosto é de ver assim as vezes certos abandonos bem no centro de Itaquera, o que eu menos gosto, assim, eu acho que pessoa, se ele é pobre, está precisando trabalhar e comer, e que ele use um cantinho de Itaquera para utilizar isso, para ele sobreviver e que deixe limpo pelo menos. O que eu menos gosto, e eu fico triste quando vejo tanta sujeira, pessoa faz as barracas, deixa aquela imundície, você olha lá na estação de Itaquera lá embaixo para você ver como é que está. Então eu acho assim, você ocupa um pedacinho de Itaquera, você veio de lá longe, mais da parte do norte, vem, vem usar o nosso pedacinho de Itaquera, cuida. Fizeram no centro de Itaquera plantações de azaléias, era a coisa mais linda, eu me lembro que teve vários administradores de Itaquera ótimos, certo, eles arborizaram e fizeram tudo canteiro de flor, me diz se tem uma, então é o que eu menos gosto. Que eu quero que as pessoas cuidem do que eles estão usando. Como que a senhora gostaria que o bairro fosse assim daqui a 50 anos, no futuro? Que tivesse, não deixasse de ter memória, (riso) entendeu? Porque daqui 50 anos, nós temos novos, novas gerações que a gente não sabe o que vai ser o futuro, né, o futuro está muito indeciso, mas vai ter boas pessoas que vai orientar, vai ter, eu tenho fé que vai ter governantes bons, nós temos governantes bom, que poderia até fazer mais e as vezes deixa para lá. Bom, mas nós vamos ter, vai ter uma virada nessa vida que eu estou vendo como você, como vocês duas aqui na minha frente jovens procurando resgatar o passado, e eu lá nas escolas estou lutando, todas as escolas estão fazendo a memória, a história daquela escola, a história da onde eles vivem com criança de 7 anos. Isso aonde? Lá na Camilo? Tem aqui embaixo, na Danilo, eu vi fazer o trabalho muito bonito, eu vi na Escrevivendo, uma escolinha particular que faz tudo que eles dizem assim: “escrevendo e vivendo”. E lá eu já fui duas vezes com eles para eles conhecerem as coisas de Itaquera, e eles fizeram a história do modo deles, então onde eles moram, o que os pais deles fizeram, então eles estão resgatando a memória. E várias, a Luzia de Queiroz, fizeram um bonito trabalho com a pedreira de Itaquera, por causa do fechamento, fizeram um bonito trabalho. Agora eu exigi deles nesse fechamento, já é um outro papo, porque a pedreira quando fecha, eles fazem um aterro sanitário, se fizer aterro sanitário ninguém mais vive aqui no pedaço com o mau cheiro do gás, que isso... Aí eu entrei com várias entidades, nós entramos com projetos culturais, fomos assistir os slides do que eles vão fazer e o que vai ser feito, e exigimos em papel por Itaquera. Nossa Dona Madalena, tinha que ter assim cada bairro tinha que ter uma da senhora. (riso) Eu precisava de ajuda.

P - Ela precisava mesmo disso. Não, sabe por quê? Porque, olha, depois que eles colocam aterro sanitário, que está unindo a prefeitura com a Galvão, é unido, e eles tem o projeto de quatro anos terminarem, de quatro a cinco anos, e vai ficar reto, e vai talvez uma faculdade, um shopping, pelo que eu senti lá vai coisas, projeto, é como se diz, de lojas de grande porte, que a região agora já está pedindo isso, né, e a pedreira está fechando por motivo que ela está no meio de uma Cohab, de um metrô e os estrondos abala isso aqui, você entendeu? Ah, foi por conta disso que fechou? É, não foi o metrô que exigiu, foi que ele estava sentindo muita pressão, e é como eu estou falando, morrem os velhos e ficam os jovens, os jovens eles querem mais aproveitar o que os velhos deixaram, né? E eu com esse receio, falei assim: “meu pai, eu vou atrás disso aí porque se fizeram aterro sanitário, nós estamos tudo perdido”. E depois que fez... Não tira mais. O negócio é fazer antes, sem demagogia, ir saber: “o que vocês vão fazer, vocês vão aterrar a pedreira, posso filmar, posso fotografar, para dar para os jovens de amanhã”, o que é uma pedreira, vocês não sabem nem o que é uma pedreira, entendeu? Os jovens que moram aqui, nasceram aqui, não sabe o que é pedra, não sabe o que é uma pedreira, entendeu? E eu pedi para eles também, encarecidamente, que eles, uma vez por mês, pegasse uma escola da região e permitisse que eles fossem passear dentro da pedreira até acabar de aterrar vai tempo, e eu fiz isso por escrito, porque senão todo o mundo trabalhando só vai atrapalhar lá dentro. E eles vão, se Deus quiser agora, para o mês, eu vou telefonar para ele, filho do dono, uma pessoa maravilhosa, e vou ver se eu tenho condições de levar pelo menos uma escola por mês, ou um grupo que se una, ou um grupo de idosos, um grupo de jovens, um grupo de crianças, qualquer coisa, que eles permitam que eles entrem para ver o que eu tirei fotos. Eu não trouxe, filha, porque é tanta coisa. Não, tudo bem Eu vou trazer para vocês as fotos que eu tirei agora, mas eu tirei com minha máquina mesmo, mas pelo que eu vi ficou uma, ficou mais ou menos, pelo que eu ouvi dizer que está igual... Com quem que a senhora mora hoje? Eu moro com a minha família, com meu esposo, meus filhos. Quantos filhos a senhora tem? Tenho dois rapazes. Como é que eles chamam? Sidney e Vagner, tenho o maior orgulho dos meus bonecos. E quantos anos que eles têm? O Sidney fez 30 e o Vagner 26. Eles já são casados? Não, solteiro, um está noivo, se casa agora para o ano, e o outro está comigo. Um cartorário, ele é o braço de ferro do cartório de Itaquera, inclusive... A senhora não tem netinhos então? Não, eles ainda nasceram. São filhos maravilhosos, sabe esses filhinhos criado, que fala assim: “enquanto eu não puder manter minha esposa, deixa ela com o pai dela” Tem uma pergunta ainda que é de praxe, mas eu até sei o que a senhora vai responder, mas eu vou perguntar. Qual que é o grande sonho da vida da senhora, que a senhora quer realizar? Meu sonho? É. Meu sonho é que continuasse a Paixão de Cristo no Parque do Carmo, porque é um evento que não é cobrado um tostão, esse povo trabalha, são 150 pessoas, grupos de família, que mostra o que é uma cultura, porque é um teatro, mostra uma cultura, porque é nós ensinamos eles a fazer os próprios instrumentos de teatro, um chapéu, uma lança, uma cruz de eucalipto, nós vamos no meio do mato, colhe a cruz de eucalipto e faz a cruz de Cristo, nós fazemos ao vivo, né, demos a renda para as televisões, mais de 15 anos, todas as tevês, todas as, os canais de televisão vinham, passava a semana santa inteira. Por programação nas tevês que nós era o ponto de partida, São Paulo mostra o Parque do Carmo, foi tirado. É um sonho que eu queria que voltasse mesmo que eu estou meio cansada, mas eu estou com todas as roupas do teatro e estou com tudo guardado, que me deram essa parte. E a casa da memória e que fizesse bem proveito da estação, que eu não consegui pegar a estação, a estação ela tem outros projetos e pelo que eu estou sentindo vão ser bons também, que seria um projeto que eu vi nessa última reunião que eu estive da Emprasa e que diz que o governo vai fazer um centro de reabilitação para o deficiente, através, que é uma unidade, parece que é do Hospital das Clínicas, e como eu lido com deficientes, porque eu estudo, mas eu trabalho também, porque na Castelo tem um projeto Dinda, onde abrange os idosos, criança de rua e o deficiente, é, mais é excepcional. Mental. Mental, né, tem até carro para buscar em casa e nós que somos da terceira idade, nós nos doamos a ajudar, no último ano, né, que eu também preciso fazer um cursinho para saber poder lhe dar com ele, até que eu tenho prática, isso aí que eu sempre trabalhei com isso, e mas eu tenho que me aprofundar melhor. E que se for possível realizar esse sonho para o jovem, a casa da memória e a casa cultural, porque nós temos artistas natos aqui em Itaquera, em tudo que você mexe tem um artista, pintura, cantores, músicos, atletas, nós vamos até mandar um para a Espanha agora, o mês que vem, catando dinheiro, vendendo rifa, nós vamos mandar um atleta para a Espanha daqui de Itaquera. Então vendendo rifa, tudo bem, mas eu queria esse espaço para que a casa da cultura tivesse um espaço enorme porque lá tem bale, teatro, música, dança, tem tudo, por tudo junto e dar a casinha da memória onde o aluno possa fazer um trabalho de escola decente. É um sonho, é um sonho que mesmo que eu não realize, tenho certeza que você vai realizar. (riso) A gente agradece essa entrevista, foi ótima essa entrevista. Eu sei que a entrevista vai ser péssima. (riso)

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